ANÁLISE-Eleições na Argentina colocam laços com Brasil e China em destaque

Publicado 09.11.2023, 09:04
Atualizado 09.11.2023, 09:05
© Reuters. Milei reúne apoiadores em Buenos Aires
 25/9/2023   REUTERS/Cristina Sille

Por Lucila Sigal

BUENOS AIRES (Reuters) - A Argentina poderá ver uma redefinição de alguns laços globais, dependendo do resultado do segundo turno das eleições presidenciais neste mês - embora o valor do comércio com parceiros como a China e o Brasil possa superar qualquer postura política de curto prazo.

Enquanto o ministro da Economia, Sergio Massa, um pragmático da coalizão de esquerda no poder, sinalizou uma continuidade política, o candidato libertário radical Javier Milei criticou duramente China, Brasil, papa, Mercosul e grupo Brics.

Massa e Milei têm um confronto direto no dia 19 de novembro, que parece ser uma disputa acirrada, com eleitores furiosos profundamente divididos em meio a uma inflação de quase 140%, dois quintos da população na pobreza, taxas de juros altíssimas e controles de capital que prejudicam a economia.

A votação pode afetar o posicionamento global da Argentina, a segunda economia da América do Sul, que é uma grande exportadora de grãos, além de produtora de lítio e xisto. No entanto, anos de volatilidade deixaram alguns investidores internacionais cautelosos e o país é o maior devedor do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Gustavo Martínez Pandiani, atual embaixador argentino na Suíça e provável ministro das Relações Exteriores de Massa, disse que um futuro governo de Massa procuraria melhorar as parcerias globais do país.

"Embora alguns prometam cortar os laços com o Brasil ou a China, queremos mais mercados e mais parceiros comerciais, não menos", afirmou ele.

Milei disse que "não fará acordos com comunistas" na China ou no Brasil, embora apoie o comércio privado. Ele descreveu a mudança climática como uma "mentira do socialismo" e disse que o papa Francisco, que é argentino, está "do lado das ditaduras sangrentas".

Diana Mondino, provável ministra das Relações Exteriores de Milei, disse que algumas das declarações dele foram descontextualizadas e que, na verdade, ele procuraria "reinserir a Argentina no mundo".

"Não só não há problemas com o Brasil, como esperamos poder comercializar o máximo possível com o Brasil", declarou Mondino, acrescentando que, com a China - um importante parceiro comercial, credor e investidor - Milei simplesmente interromperia os acordos opacos entre Estados.

Isso poderia incluir a linha de swap cambial de 18 bilhões de dólares do país com a China, que tem ajudado a Argentina a pagar sua dívida com o FMI. A China também é uma grande investidora em projetos locais de lítio, hidrelétricos e nucleares.

"O que não vamos fazer são contratos secretos. A Argentina, neste governo, nos últimos 20 anos, teve várias negociações secretas", afirmou ela. "Isso não é normal e é o que já dissemos que não faremos."

Uma fonte sênior atual do Ministério das Relações Exteriores, da mesma coalizão peronista de Massa, prevê que os laços da Argentina com o Brasil e a China continuariam independentemente de quem ganhe a eleição.

"As relações com a China continuarão como até agora, com qualquer um dos dois candidatos. O intenso comércio que existe com eles não pode ser dissolvido", disse a pessoa, que pediu para não ser identificada.

"A mesma coisa aconteceria com o Brasil: relações pessoais ruins não afetam o comércio."

MERCOSUL E BRICS

Massa e Milei também entraram em conflito sobre o Mercosul, bloco comercial regional liderado por Argentina e Brasil que tem enfrentado tensão interna de outros membros que dizem que não é um mecanismo comercial eficaz para negociar acordos globais.

Os peronistas querem fortalecer o bloco, enquanto Milei ameaçou retirar a Argentina dele.

Pandiani disse que os países membros precisam "modernizar o Mercosul para torná-lo mais eficiente" e acrescentou que um governo Massa o consideraria sua "principal plataforma" para o comércio global.

"A Argentina tem um futuro muito promissor, porque tem o que o mundo exige: proteínas; energia tradicional, verde e de transição; minerais essenciais, como lítio e cobre; terras raras e recursos humanos qualificados", afirmou ele.

O atual governo também tem pressionado para que a Argentina faça parte do grupo de países em desenvolvimento Brics, apoiado pela China, que também inclui Índia, Brasil, Rússia e África do Sul. A Argentina foi convidada a participar do grupo em agosto. Milei se opõe à adesão.

"O Brics não é um bloco comercial. Até o momento, não está claro por que gostaríamos de fazer parte desse grupo", disse Mondino.

Pandiani discordou. "Rejeitar a entrada no Brics é um absurdo; acreditamos que a Argentina deve sempre se sentar nas mesas de negociação onde são discutidas questões importantes para o nosso futuro", declarou ele.

(Reportagem adicional de Nicolás Misculin)

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