Por Alexandra Ulmer e Diego Oré
CARACAS (Reuters) - Uma Venezuela polarizada irá às urnas neste final de semana, e a recessão avassaladora deve abalar o governista Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) e levar uma oposição empolgada à sua primeira maioria legislativa em 16 anos.
Fundado pelo falecido presidente Hugo Chávez, o outrora poderoso chavismo se vê diante da revolta popular com uma escassez que vai dos alimentos aos remédios e com a pior inflação do mundo sob o comando de seu sucessor, Nicolás Maduro.
Uma derrota do chavismo na eleição de domingo daria à oposição uma grande plataforma para combater Maduro e seria mais um golpe na esquerda da América Latina após a guinada à direita da Argentina representada pela vitória de Mauricio Macri no pleito presidencial do mês passado.
Se a coalizão opositora obtiver a maioria dos 167 assentos da Assembleia Nacional venezuelana, irá alimentar a esperança de reduzir a hegemonia dos socialistas e enfrentar o que considera a má administração, a corrupção e o autoritarismo dos 17 anos de chavismo.
Isso pode levar a um confronto, dados os poderes executivos do combativo Maduro e a inclinação pró-governo de instituições que vão do Supremo Tribunal ao Banco Central.
Após uma véspera de eleição acalorada, marcada por insultos e pelo assassinato de um candidato opositor, Maduro encerrou sua campanha nesta quinta-feira com um comício de rua, enquanto a oposição realizava um show no rico leste de Caracas.
Maduro alertou os venezuelanos a não traírem Chávez votando no que tachou como uma panelinha elitista apoiada pelos Estados Unidos que aboliria os programas sociais.
"Imaginem se eles dominassem a Assembleia Nacional. Eu não o permitiria, juro, não deixaria minhas mãos serem atadas por ninguém. Iria às ruas com o povo", bradou nesta semana.
O ex-motorista de ônibus e líder sindical eleito em 2013, após a morte de Chávez em decorrência de um câncer, tem marcado presença na televisão estatal todos os dias se mostrando em comícios por toda a Venezuela.
Mas em quase todos os rincões do país membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a raiva só cresce, especialmente entre os pobres, o bastião tradicional do governo esquerdista agora afetado pelas longas filas por comida e pela inflação que destrói a renda.
"Estou exausta. Isto é um desastre", disse Dexy Mejia, estudante de 21 anos, grávida que tem que enfrentar filas de madrugada para receber algumas poucas fraldas em Sabaneta, a quentíssima cidade-natal de Chávez.
Mas o chavismo ainda desperta devoção em muitos, e como os candidatos socialistas vêm invocando o ex-presidente em discursos, canções e danças, algumas pessoas, inclusive Dexy, estão em cima do muro sobre os destinatários de seu voto no domingo.