O ex-ministro da Fazenda, subsecretário geral da ONU (Organização das Nações Unidas) e diplomata de carreira, Rubens Ricupero, 87 anos, avalia que o ataque do Irã a Israel foi controlado e mais uma ação de “propaganda”. Isso se deu, segundo ele, porque os envolvidos não têm interesse em escalar o conflito contra Israel e seus aliados como os Estados Unidos. A preocupação, entretanto, é a resposta israelense, que pode levar a uma guerra na região.
“Praticamente todas as partes querem manter a questão sob limites, sob contenção. Menos, eu tenho dúvidas, o governo de Israel. Acho que o ataque do Irã, pelas características que teve, foi mais uma ação de propaganda que eles tinham que tomar de alguma maneira depois daquele atentado que Israel desfechou contra o consulado do Irã na Síria e liquidou vários comandantes importantes”, afirmou em entrevista ao Poder360 neste domingo (14.abr.2024).
Para Ricupero, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pode agir motivado por sua situação política interna e, por isso, escalar o conflito: “Está lutando pela sua própria pele. Se essa guerra amainar e houver uma eleição em Israel, ele não só perde como provavelmente vai ser preso. Então, ele está lutando pela própria sobrevivência e ele conta, no gabinete dele, com muita gente extremada que pensa da mesma forma. Se Israel retaliar de uma forma desproporcional, não é nem do interesse dos americanos. Tudo que o Biden não quer em ano eleitoral é ter uma guerra de grandes proporções no Oriente Médio”.
O Irã lançou no sábado (13.abr) um ataque com drones e mísseis contra Israel. As FDI (Forças de Defesa de Israel) disseram que foram lançados mais de 300 alvos aéreos “de vários tipos”, sendo que os militares israelenses interceptaram 99% deles.
A região vive tensão elevada depois que um ataque à embaixada iraniana na Síria deixou ao menos 8 mortos em 1º de abril. Os 2 países culparam Israel.
BRASIL ACERTOU NO TOM DA NOTA
Para Ricupero, o governo brasileiro acertou no tom da nota sobre o ataque ao evitar ficar do lado de qualquer uma das partes. Segundo ele, o Brasil deve manter distância de ambos, até por não ter poderio militar para ajudar Israel ou o Irã como outros países têm feito.
“O Brasil não tem porque, num episódio como esse, tomar uma posição de um lado ou de outro porque ambos, de certa maneira, estão violando a lei internacional dizendo que estão fazendo isso em autodefesa. O que o Brasil tem melhor a fazer é manter uma situação de equidistância e de preocupação”, declarou.
O Ministério das Relações Exteriores declarou na noite de sábado (13.abr) que estava acompanhando o conflito entre Irã e Israel com “grave preocupação”. A declaração do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) evitou condenar a ação iraniana. Esse posicionamento desapontou o embaixador israelense no país, Daniel Zonshine.
LIMITES NO CONFLITO
O ex-ministro afirma também que está claro que nenhuma das partes têm interesse em escalar o conflito. Como exemplo, ele disse que a representação iraniana na ONU já deu o assunto como terminado depois do ataque a Israel. O mesmo serve para os EUA, que ajudaram na contenção dos drones iranianos, mas agora falam em saída diplomática.
“A maioria dos países gostaria que esse assunto fosse encerrado aí. Houve um 1º episódio, houve agora uma resposta, vamos considerar o assunto encerrado. Mesmo porque problema é o que não falta. A Faixa de Gaza está longe de ter uma equação encaminhada”, afirmou o ex-ministro.