Por James Pomfret e Greg Torode
HONG KONG (Reuters) - Milhares de moradores de Hong Kong realizaram nesta quarta-feira um protesto antigoverno, em certos momentos desconexo, em uma estação de metrô suburbana que foi atacada por um bando no mês passado, revoltados por ninguém ainda ter sido processado pelo episódio de violência.
Alguns manifestantes mascarados entraram em confronto com a polícia, esguichando o conteúdo de extintores de incêndio de dentro da estação de Yuen Long enquanto outros derramavam óleo de cozinha, cerveja e detergente no chão para deter o avanço da polícia.
Alguns bloquearam saídas da estação com latas de lixo, cabines e mobília da estação e outros interditaram ruas diante da estação, mirando fachos de laser verdes nas fileiras de policiais munidos de escudos. Outros lançaram extintores vazios contra as fileiras de policiais. Muitos dentro da estação permaneciam sentados sem reação.
Foi a mais recente de uma série de manifestações realizadas desde junho contra o que se acredita ser uma erosão das liberdades na ex-colônia britânica, devolvida ao controle chinês em 1997.
Ela também assinalou a volta da violência após um alívio breve nas tensões, vindo na esteira de uma grande marcha pacífica no domingo.
Mas o confronto não degenerou em batalhas campais, já que a polícia evitou usar gás lacrimogêneo ou tentar avançar sobre os manifestantes. Só se viu uma pedra atingir o escudo de um policial, e a maioria dos manifestantes foi para casa antes da meia-noite.
O protesto foi uma alusão à noite de 21 de julho, quando mais de 100 homens vestidos com camisetas brancas invadiram a estação de Yuen Long horas depois de manifestantes marcharem pelo centro de Hong Kong e depredarem o Escritório de Ligação da China --o maior símbolo da autoridade de Pequim.
Usando canos e porretes, os homens atacaram manifestantes vestidos de preto que voltavam da ilha de Hong Kong, transeuntes, jornalistas e parlamentares, ferindo 45 pessoas.
Lam Cheuk-ting, parlamentar do Partido Democrático ferido no ataque, disse acreditar que os manifestantes queriam uma noite pacífica nesta quarta-feira, mas que não podia descartar mais violência --de gangues ou da polícia.
"É impossível prever... é profundamente decepcionante que passadas todas essas semanas ainda não tenhamos um inquérito independente sobre estes acontecimentos", disse ele à Reuters.
A atual onda de protestos irrompeu em junho por conta de um projeto de lei hoje suspenso que permitiria que suspeitos de crimes de Hong Kong fossem extraditados para a China continental para serem julgados. Na terça-feira, a líder de Hong Kong, Carrie Lam, voltou a dizer que a legislação está morta.
Pequim reagiu com contundência aos protestos e acusou países estrangeiros, incluindo os Estados Unidos, de fomentarem os tumultos. A China também deixou claro que uma intervenção vigorosa é possível, e forças paramilitares têm realizado exercícios na vizinha Shenzhen.
Algumas empresas de Hong Kong foram implicadas em uma polêmica em meio aos protestos.
Pilotos e comissários da Cathay Pacific Airways descreveram um "terror branco" de denúncias políticas, saques e buscas em telefones realizadas por autoridades aeroviárias chinesas.