MOSCOU/BEIRUTE/GENEBRA (Reuters) - Os aviões de guerra russos na Síria voltaram para casa nesta terça-feira, quando Moscou começou a retirar forças que fizeram a balança da guerra pender a favor do presidente sírio, Bashar al-Assad, e o enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) disse esperar que a medida ajude as conversas de paz em Genebra.
Enquanto a primeira aeronave pousava na Rússia, o enviado Staffan de Mistura classificava a decisão do presidente russo, Vladimir Putin, como um "desdobramento significativo" para resolver uma crise que entra em seu quinto ano nesta semana.
Embora os opositores de Assad tenham esperança de que o anúncio assinale uma mudança em relação ao apoio de Moscou, seu significado pleno ainda não está claro – a Rússia irá manter uma base aérea e um número indeterminado de efetivos em solo sírio.
Caças russos ainda estavam em ação contra o Estado Islâmico na terça-feira. Assad ainda conta com o apoio militar do Irã, que enviou forças à Síria, assim como o grupo libanês Hezbollah.
O anúncio surpreendente de Putin levou à especulação de que Moscou pode querer pressionar Assad a mostrar mais flexibilidade nas negociações em Genebra, onde seu governo descartou discutir a presidência e uma transferência de poder negociada.
Damasco minimizou qualquer insinuação de diferenças com seu aliado, e afirma que a medida foi coordenada e que resulta de avanços do Exército no campo de batalha. A Rússia, porém, expressou frustração com Assad no mês passado, dizendo que ele estava em descompasso com a diplomacia russa.
O secretário britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond, cujo governo apoia a oposição síria, insinuou haver limitações no entendimento que o Ocidente tem de Putin, afirmando não ter "a menor ideia sobre a estratégia russa" depois de uma decisão tão inesperada.
O Ocidente ficou igualmente atônito quando o líder russo resolveu intervir na Síria no ano passado.
"Infelizmente nenhum de nós sabe qual é a intenção do senhor Putin quando ele realiza qualquer ação, e por isso ele é um parceiro muito difícil em qualquer situação como esta", disse.
As tratativas de Genebra são parte de um esforço diplomático endossado pelos Estados Unidos e pela Rússia para pôr fim à guerra, que já matou mais de 250 mil pessoas, criou a maior crise de refugiados do mundo e permitiu a ascensão do Estado Islâmico. Ao dar início às conversas indiretas, De Mistura disse que a Síria enfrenta "a hora da verdade".
(Por Dmitry Solovyov, Tom Perry e Suleiman Al-Khalidi)