Por Daniel Ramos
LA PAZ (Reuters) - Os bolivianos estão começando a sentir os efeitos colaterais das semanas de tumultos no país sul-americano, já que os bloqueios dos apoiadores do ex-presidente Evo Morales em rotas de transporte cruciais estão agravando a falta de combustíveis e deixando os mercados desabastecidos de produtos básicos.
Em La Paz, a sede do governo, as ruas estão tranquilas porque as pessoas estão economizando gasolina, e a procura de alimentos básicos cria filas. Pessoas se alinhavam com galões de gasolina perto da usina de combustível interditada de Senkata, na vizinha El Alto, nesta terça-feira.
"Infelizmente isso está acontecendo há 3-4 semanas, então as pessoas estão desesperadas para comprar tudo que encontram", disse Ema Lopez, aposentada de 81 anos de La Paz. O país vive transtornos desde a eleição contestada de 20 de outubro.
Daniel Castro, trabalhador de 63 anos que mora na capital, culpa Morales, que renunciou no início deste mês em meio à pressão causada por alegações de fraude eleitoral que surgiram depois que uma auditoria internacional apontou irregularidades sérias na vitória do líder de esquerda.
"É terrorismo alimentar, e é o terrorismo do chefe que já foi embora. Isso é caos, e vocês estão vendo caos na Praça Villarroel (de La Paz) com mais de 5 mil pessoas que estão lá só para escolher uma galinha", disse.
Na semana passada, Morales fugiu para o México, onde denunciou o que qualificou como um golpe da direita. Ele insinuou que pode voltar ao país, mas prometeu não se candidatar a uma nova eleição que o governo provisório tenta organizar.
Desde então, seus apoiadores intensificaram os protestos contra a presidente interina, Jeanine Áñez, pedindo que ela renuncie e que Morales volte. Nove plantadores de coca foram mortos na semana passada durante confrontos com forças de segurança em protestos pelo retorno de Morales.
A Assembleia Legislativa da Bolívia, controlada pelo partido Movimento Ao Socialismo (MAS) de Morales, iria se reunir na noite desta terça-feira, com a expectativa de votação pela rejeição da renúncia de Morales –uma manobra que poderia agravar a instabilidade da nação provocando uma disputa dos dois campos pela Presidência.
Mas parlamentares leais a Morales disseram que a Assembleia, onde são maioria, tinha suspendido a sessão prevista.
(Por Daniel Ramos e Miguel Lo Bianco)