Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de críticas ao governo brasileiro pela nota em que não condenou explicitamente o ataque do Irã à Israel, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta segunda-feira que o Brasil "condena sempre qualquer ato de violência" e "conclama o entendimento entre as partes", mas defendeu a mensagem divulgada no dia do ataque.
Na nota divulgada na noite de sábado, o Itamaraty declarou "grave preocupação" com o ataque e ressalta que vinha alertando para o "potencial destrutivo do alastramento das hostilidades" para outros países do Oriente Médio.
O teor foi criticado por não condenar diretamente os ataques por drones e mísseis do Irã à Israel, uma retaliação depois de Israel ter bombardeado o complexo da embaixada iraniana na Síria em que morreram sete membros da Guarda Revolucionária do Irã.
De acordo com o ministro, a nota foi feita no momento dos ataques, quando ainda não se tinha clara a extensão ou alcance dos ataques do Irã.
"Isso foi feito à noite, em um momento em que não tínhamos a extensão ou alcance das medidas que estavam sendo tomadas, e fizemos um apelo, como sempre fizemos, pela contenção das partes", disse Mauro Vieira.
Questionado se agora, com todas as informações, o Brasil condena o ataque do Irã, respondeu:
"O Brasil condena sempre qualquer ato de violência e o Brasil conclama sempre o entendimento entre as partes."
No início do mês, quando Israel bombardeou a embaixada da Síria no Irã, os termos da nota do Itamaraty foram mais duros. "O governo brasileiro condena o ataque aéreo, em primeiro de abril, contra o consulado da República Islâmica do Irã, em Damasco", dizia o texto.
Os dois pesos foram criticados por representantes da comunidade judaica no Brasil e também pelo governo israelense, com quem o governo brasileiro tem tido repetidos incidentes diplomáticos pela postura dura de crítica aos ataques de Israel à Faixa de Gaza.
De acordo com uma fonte do governo brasileiro, a nota foi divulgada ainda na noite de sábado, em meio aos ataques iranianos, a pedido de presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que manifestou uma preocupação de que o conflito se alastrasse pela região.
A intenção inicial era que o texto só saísse mais tarde, como foi feito quando do suposto ataque israelense ao consulado iraniano na Síria -- quando a nota saiu dois dias depois -- para que se pudesse ter já uma noção do impacto, das consequências e das violações causadas pelo ataque, contou a fonte.
"É compreensível a intenção, a preocupação com a contaminação é real, mas aí o que poderíamos fazer era destacar a grave preocupação -- que em termos diplomáticos é muito grave", disse a fonte.