Por William James
LONDRES (Reuters) - A última aparição de David Cameron no Parlamento britânico como primeiro-ministro terminou com a plateia aplaudindo de pé após um verdadeiro espetáculo de 36 minutos, no qual cutucou seus rivais, refletiu sobre seu legado e confessou seu amor pelo gato do gabinete.
Depois de seis anos como líder, Cameron irá entregar sua renúncia à rainha Elizabeth formalmente ainda nesta quarta-feira, cedendo o controle do país à colega conservadora Theresa May, que irá se encarregar de negociar a saída britânica da União Europeia.
Discursando em um Parlamento lotado, com parlamentares, jornalistas, assessores e espectadores espremidos em cada canto da ornamentada câmara de debates, Cameron respondeu perguntas com o ar de um homem que anseia por uma tarde de folga.
"Hoje de manhã tive reuniões com colegas de ministério e outros", contou. "Tirando um encontro com vossa majestade, a rainha, de tarde, o cronograma do resto do meu dia está notavelmente leve", disse, causando risos, enquanto sua esposa, Samantha, e seus filhos observavam da galeria destinada ao público.
Elogiado muitas vezes por sua postura de estadista, Cameron se mostrou mais relaxado quando se voltou contra seu adversário político Jeremy Corbyn, cujo próprio futuro está sujeito a uma batalha longa e amarga dentro do opositor Partido Trabalhista.
"Nós dois andamos lidando com eleições pela liderança. Nós (conservadores) fomos adiante: tivemos uma renúncia, uma indicação, uma competição e uma coroação. Eles ainda nem decidiram quais são as regras", disse, recebendo a aprovação entusiasmada de seu lado da câmara.
"Se eles algum dia chegarem ao poder, levarão cerca de um ano para resolver onde cada um irá se sentar."
Mesmo o usualmente sério Corbyn usou gracejos para a sessão semanal "Perguntas ao Primeiro-Ministro".
Abrindo mão de uma das seis perguntas a que tinha direito para homenagear Cameron, Corbyn lhe pediu para agradecer à sua mãe pelas dicas de moda --uma brincadeira referente a uma discussão acalorada na qual Cameron disse que sua mãe gostaria que Corbyn, frequentemente desleixado, "colocasse um termo decente, ajeitasse a gravata e cantasse o hino nacional".