Por Lawrence Hurley
WASHINGTON (Reuters) - Caos cercou a audiência de confirmação no Senado dos Estados Unidos para Brett Kavanaugh, escolha do presidente Donald Trump à Suprema Corte, com democratas reclamando nesta terça-feira sobre a recusa de republicanos em entregar documentos sobre o serviço anterior do indicado na Casa Branca e manifestantes sendo presos.
Mais de sete horas se passaram durante a audiência do Comitê Judiciário do Senado antes de Kavanaugh, um juiz conservador da corte federal de apelações que Trump selecionou para um cargo vitalício no órgão judicial mais alto dos EUA, conseguir fazer seu discurso de abertura.
Kavanaugh, indicado por um presidente que tem frequentemente criticado o judiciário federal, disse a senadores que “um juiz precisa ser independente e não oscilar por pressão pública. Nosso judiciário independente é a joia da coroa de nossa república constitucional”.
Com senadores democratas repetidamente interrompendo no início da audiência o presidente do comitê, o republicano Chuck Grassley, a sessão rapidamente se tornou um tumulto. O Capitólio informou que 61 manifestantes foram removidos da sala e acusados de conduta desordeira, junto a nove outros do lado de fora da audiência.
Democratas denunciaram a retenção dos documentos e buscaram adiar os procedimentos, conforme Grassley lutava para manter ordem.
“Esta é a primeira confirmação para um juiz da Suprema Corte que eu vi, basicamente, de acordo com o governo da multidão”, disse o senador republicano John Cornyn, em uma caracterização que democratas rejeitaram.
“O que nós ouvimos é o barulho da democracia”, disse o senador democrata Dick Durbin.
Manifestantes, em maioria mulheres, se revezaram em gritos dizendo: “Esta é uma paródia da justiça”, “Nossa democracia está quebrada” e “Votem não para Kavanaugh”. Manifestantes expressaram preocupação sobre o que veem como uma ameaça apresentada por Kavanaugh para direito de aborto, acesso à saúde e controle de armas.
O senador democrata Cory Booker apelou ao “senso de decência e integridade” de Grassley e disse que a retenção dos documentos por parte de republicanos e da Casa Branca deixou parlamentares incapazes de examinar Kavanaugh devidamente.
“Nós não podemos avançar. Nós não tivemos uma oportunidade de ter uma audiência significativa”, disse a senadora democrata Kamala Harris.
Grassley considerou “fora de cogitação” o pedido de democratas para adiar a audiência e os acusou de obstrução. Republicanos possuem uma pequena maioria no Senado e podem confirmar Kavanaugh se permanecerem unidos. Não havia sinais de deserções republicanas.
Trump criticou os democratas no Twitter (NYSE:TWTR), dizendo que a audiência foi “verdadeiramente uma exibição do quão desprezível, irritado e vil o outro lado é” e acusando os democratas de “buscarem infligir dor e constrangimento” a Kavanaugh.
Se confirmado, Kavanaugh, de 53 anos, deve mover a corte – que já possui uma maioria conservadora – ainda mais à direita.
Líderes democratas no Senado prometeram uma dura luta para tentar bloquear sua confirmação. Democratas destacaram que irão pressionar Kavanaugh sobre aborto, direitos de armas e poder presidencial quando puderem fazer perguntas a ele a partir de quarta-feira, em uma audiência que deve seguir até quinta-feira.
Democratas exigiram, em vão, ver os documentos relacionados ao tempo em que Kavanaugh foi secretário de gabinete do ex-presidente republicano George W. Bush de 2003 a 2006. Este cargo envolveu administração de documentos de assessores para Bush. Republicanos também divulgaram alguns, mas não todos, documentos sobre os dois anos anteriores de Kavanaugh como um advogado no conselho da Casa Branca de Bush.
Republicanos disseram que democratas possuem documentos mais que suficientes para avaliar o histórico de Kavanaugh, incluindo seus 12 anos de opiniões judiciais como juiz da Corte de Apelações para o Circuito do Distrito de Columbia.