RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Vale, maior produtora global de minério de ferro, avalia que a demanda da China será maior no segundo semestre, mas prevê um período de preços menos "exuberantes" para a matéria-prima do aço, e assim manterá forte foco em elevar margens diante do crescimento da oferta global da commodity.
"Historicamente o segundo semestre da China é melhor", disse nesta quinta-feira o diretor-executivo de Ferrosos e Estratégia da Vale, José Carlos Martins, durante conferência com analistas sobre resultados do segundo trimestre, divulgados mais cedo.
O executivo destacou que o governo da China, maior importador de minério de ferro do mundo e de produtos da Vale, costuma fazer movimentos na segunda metade do ano para cumprir metas para a economia chinesa, como liberação de crédito.
"Estamos otimistas com relação a China, eles têm mostrado capacidade muito grande de manter a economia com vigor apesar das expectativas negativas que a gente tem assistido", declarou.
A expectativa para os preços do minério de ferro no segundo semestre também é de melhora em relação ao que foi observado até agora neste ano. Em junho, o minério caiu para uma mínima de 21 meses, de acordo com o Steel Index.
Os preços do minério de ferro tiveram o segundo ganho mensal consecutivo em julho, em meio à demanda sustentada da China, embora o insumo para a fabricação de aço ainda não tenha se afastado de forma consistente das mínimas de 21 meses.
Segundo Martins, o preço sofreu forte impacto de uma oferta excessiva de minério de ferro entre janeiro e junho deste ano, mas que em grande parte já foi absorvida.
"Fomos surpreendidos pelo aumento da oferta de minério muito maior que a gente esperava", disse Martins.
A Vale calcula que a oferta global de minério de ferro vai crescer em cerca de 50 milhões de toneladas no segundo semestre, ante aumento de 90 milhões de toneladas no primeiro.
A mineradora publicou lucro líquido de 3,187 bilhões de reais no segundo trimestre, com preços menores do principal produto da companhia limitando ganhos.
Os preços do produto da Vale caíram 17,6 por cento no segundo trimestre ante o mesmo período de 2013, para 84,60 dólares por tonelada, devido ao aumento da oferta global --a própria companhia produziu um recorde para o segundo trimestre.
O papel preferencial da Vale fechou com alta de 0,69 por cento, enquanto o Ibovespa recuou 1,84 por cento.
"Os bons números foram impulsionados principalmente por uma combinação de maiores volumes de vendas de minério de ferro, melhor realização de preços de minério de ferro e fortes preços de metais básicos, que compensaram a queda nos preços do minério de ferro", segundo relatório do JP Morgan.
MAIORES MARGENS
Mas é na capacidade de diluir custos com a escala de produção que reside a confiança da Vale para lidar com um mercado bem ofertado, explicou Martins.
"A gente sabe que o preço não vai ter mais aquela exuberância que a gente viu nos últimos anos", afirmou, ponderando que os preços somente deixaram de ser "muito lucrativos" para a empresa e agora serão apenas "lucrativos".
Segundo ele, nos últimos seis anos, houve um período de demandas fortes e preços subindo e que agora o mercado terá um período de estabilidade.
Para Martins, se sairão melhor as empresas que começarem a administrar os custos de forma mais eficiente.
"Estamos moderadamente otimistas quanto a preço, estamos muito otimistas com relação a nossa capacidade de ganhar margem com ampliação de volume e também de redução de custo."
Segundo cálculos da Vale, houve um crescimento acima do esperado na oferta no mercado transoceânico. "O mercado seaborne (transoceânico) está crescendo este ano quase 20 por cento acima do ano anterior", afirmou.
O crescimento, avaliou Martins, recebeu impacto também de um ramp-up antecipado de expansões de projetos na Austrália e também devido a um clima favorável em importantes áreas produtoras, incluindo o Brasil.
Entretanto, o mesmo não aconteceu com a demanda. "Esperávamos aumento da demanda um pouco maior, do ponto de vista de aço e ela foi um pouco pior tanto no ocidente, como na própria China", afirmou.
Ele observou que a correção da demanda mais fraca se dá no preço e destacou que o crescimento da oferta observado na Austrália não deve se repetir na mesma proporção no próximo ano. Mas alguns locais, como o próprio Brasil, devem apresentar expansão da produção.
(Por Marta Nogueira)