Por Sam Edwards e Angus MacSwan
BARCELONA/MADRI (Reuters) - O governo da Espanha começou a tomar providências para assumir o controle direto da Catalunha nesta sexta-feira, privando a região de sua autonomia menos de uma hora depois de o Parlamento regional declarar independência – uma demonstração surpreendente de desafio a Madri.
Embora a declaração catalã pareça ser um gesto condenado ao fracasso, as medidas dos dois lados levam a pior crise política do país em quatro décadas a um patamar novo e possivelmente perigoso.
O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, pediu calma e disse que o Estado de Direito será restaurado na Catalunha, onde secessionistas nutrem há tempos o sonho de uma nação separada.
Uma multidão de mais de 2 mil apoiadores da independência se reuniu no Parque Ciutadella, diante do Parlamento localizado em Barcelona, gritando "liberdade" em catalão e cantando canções tradicionais enquanto a votação da separação transcorria.
A moção foi aprovada pela legislatura depois de um debate apaixonado entre defensores e opositores da independência em que se decretou que a Catalunha constitui um Estado independente, soberano e social democrata.
O líder catalão, Carles Puigdemont, deixou a câmara aos gritos de "Presidente!", e prefeitos que haviam chegado de áreas adjacentes brandiram seus bastões cerimoniais e cantaram o hino catalão "Os Ceifadores".
"A Catalunha é e será uma terra de liberdade. Em tempos de dificuldade e em tempos de comemoração. Agora mais do que nunca", tuitou Puigdemont.
Mas imediatamente após a notícia da votação, que três partidos de oposição boicotaram, as ações e títulos espanhóis começaram a ser descartados, refletindo o temor do mercado com o tumulto na região rica.
Em uma hora a câmara alta do Parlamento espanhol em Madri autorizou o governo de Rajoy a controlar a Catalunha diretamente – uma medida inédita na Espanha desde a volta da democracia no final dos anos 1970.
Em Bruxelas, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse que a votação de independência não mudou nada e que a União Europeia só lidará com o governo central.
Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha também rejeitaram a declaração rapidamente e expressaram apoio aos esforços de Rajoy para manter a Espanha unida.
Seu gabinete estava se reunindo na noite local desta sexta-feira para adotar as primeiras medidas para governar a Catalunha, o que pode implicar em destituir o governo de Barcelona e assumir a supervisão direta das forças policiais catalãs.
"Medidas excepcionais só deveriam ser adotadas quando nenhum outro remédio é possível", disse Rajoy no Senado na manhã desta sexta-feira.
"Em minha opinião, não há alternativa. A única coisa que pode ser feita é aceitar e cumprir a lei", afirmou o premiê, que adotou uma postura inflexível contra a campanha independentista da Catalunha.
Mas como o controle direto funcionará na prática – incluindo a reação de servidores civis e da polícia – é incerto. Alguns apoiadores da independência prometeram montar uma campanha de desobediência civil.
"Não será fácil, não será de graça, não mudará em um dia. Mas não há alternativa a um processo rumo à República Catalã", disse a parlamentar Marta Rovira, da aliança pró-independência Junts pel Si alliance, no debate que levou à votação.
O Tribunal Constitucional da Espanha disse estar analisando a votação. O procurador do Estado e outras partes têm três dias para entrar com uma ação.
(Reportagem adicional de Paul Day, Julien Toyer e Jesus Aguado)