Por Mathieu Bonkoungou e Joe Penney
OUAGADOUGOU (Reuters) - O comandante das Forças Armadas de Burkina Fasso assumiu o poder nesta sexta-feira, depois que o presidente Blaise Compaoré renunciou em meio a manifestações de massa contra a tentativa de estender seu regime de 27 anos no país do oeste africano.
Compaoré, que tomou o poder em um golpe em 1987, tentou enfrentar a pressão popular para que renunciasse um dia depois de violentos protestos na quinta-feira, em que manifestantes invadiram o Parlamento e a televisão estatal.
Mas, com centenas de milhares de manifestantes nas ruas da capital Ouagadougou pelo segundo dia consecutivo nesta sexta, e sem qualquer sinal de apoio internacional a seu favor, Compaoré anunciou a renúncia.
"Eu declaro a vacância de poder com vistas a permitir uma transição que deve culminar com eleições livres e transparentes em um período máximo de 90 dias", disse Compaoré em uma declaração por escrito lida em rádio e televisão.
Um comboio fortemente armado supostamente levando Compaoré foi visto viajando nesta sexta em direção à cidade de Po, no sul, perto da fronteira com Gana, disseram duas fontes diplomáticas e a mídia local.
Milhares de pessoas dançaram e comemoraram nas ruas empoeiradas de Ouagadougou depois que a declaração de renúncia de Compaoré foi transmitida. O clima esfriou, porém, quando se tornou evidente que o general Honore Traore tinha tomado as rédeas do poder.
De acordo com a Constituição do Burkina Fasso, quando o presidente renuncia o chefe da Assembleia Nacional deve assumir o cargo, mas o Parlamento já havia sido dissolvido por Traore na quinta-feira sob a lei marcial.
"PRIMAVERA SUBSAARIANA"
"Considerando a urgência de salvar a nação, eu decidi que vou assumir a partir de hoje a responsabilidade de chefe de Estado", disse Traore, em entrevista coletiva.
"Assumo o compromisso solene de prosseguir sem demora com consultas com todas as partes do país, de modo a iniciar o processo de retorno à ordem constitucional o mais rápido possível", acrescentou.
Não houve reação imediata dos líderes da oposição ao anúncio de Traore.
Muitos manifestantes disseram que desejavam uma transição liderada pelo general aposentado Kouame Lougue, um popular ex-ministro da Defesa que foi acusado de tentar derrubar Compaoré em 2004.
Por muito tempo um bastião de estabilidade na região turbulenta do Sahel, Burkina Fasso agora está sendo acompanhado de perto pelos aliados militares França e Estados Unidos, e por governos da região onde vários governantes de longa data se aproximam do fim de seus mandatos, em meio ao crescente descontentamento popular.
"Este é um Primavera Subsaariana e deve continuar contra todos os presidentes que estão tentando permanecer no poder na África", disse o estudante de Direito Lucien Trinnou, referindo-se à Primavera Árabe, que derrubou vários líderes no Oriente Médio e norte da África.
O presidente francês, François Hollande, que havia discretamente buscado formas de encaixar Compaoré em um papel internacional quando seu mandato terminasse no próximo ano, acolheu a renúncia do ex-presidente em um comunicado, e pediu a realização de eleições logo.
Burkina Fasso é um dos países mais pobres do mundo, mas se posicionou como um mediador em crises regionais. O país também é um aliado-chave nas operações ocidentais contra grupos ligados à Al Qaeda na África Ocidental.
(Reportagem adicional de John Irish, em Paris; Emma Farge e Bate Felix, em Dacar)