Por Ryan Woo
PEQUIM (Reuters) - Os Estados Unidos devem mudar sua atitude "distorcida" em relação à China ou "conflito e confronto" se seguirão, disse o ministro das Relações Exteriores chinês nesta terça-feira, defendendo sua posição sobre a guerra na Ucrânia e seus laços estreitos com a Rússia.
Os EUA têm se envolvido em repressão e contenção da China, em vez de se envolverem em uma competição justa e baseada em regras, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Qin Gang, em entrevista coletiva à margem de uma reunião anual do Parlamento em Pequim.
"A percepção e as visões dos Estados Unidos sobre a China estão seriamente distorcidas", disse Qin, assessor de confiança do presidente Xi Jinping e até recentemente embaixador da China em Washington.
"Consideram a China como seu principal rival e o desafio geopolítico mais importante. Isso é como o primeiro botão da camisa sendo colocado errado."
As relações entre as duas superpotências estão tensas há anos devido a uma série de questões, incluindo Taiwan, comércio e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia, mas pioraram no mês passado depois que os Estados Unidos derrubaram um balão na costa leste norte-americana que dizem ser uma nave de espionagem chinesa.
Os EUA afirmam que estão estabelecendo barreiras para as relações e não estão buscando conflito, mas Qin disse que o que isso significa na prática é que a China não poderia responder com palavras ou ações quando caluniada ou atacada.
"Isso é simplesmente impossível", disse Qin em sua primeira coletiva de imprensa desde que se tornou ministro das Relações Exteriores no final de dezembro.
Os comentários de Qin atingiram o mesmo tom duro de seu antecessor, Wang Yi, agora o diplomata mais graduado da China depois de ter sido nomeado diretor do Escritório da Comissão de Relações Exteriores na virada do ano.
"Se os Estados Unidos não pisarem no freio e continuarem a acelerar no caminho errado, nenhuma barreira poderá impedir o descarrilamento, que se tornará conflito e confronto, e quem arcará com as consequências catastróficas?"
Autoridades dos EUA costumam falar em estabelecer barreiras no relacionamento bilateral para evitar que as tensões se transformem em crises.
Qin comparou a competição sino-americana a uma corrida entre dois atletas olímpicos.
"Se um lado, em vez de se concentrar em dar o melhor de si, sempre tenta enganar o outro, até mesmo a ponto de ter que entrar nas Paraolimpíadas, então isso não é uma competição justa", disse ele.
O ministro também afirmou que uma "mão invisível" pressiona pela escalada da guerra na Ucrânia "para servir a certas agendas geopolíticas", sem especificar a quem se referia.
Ele reiterou o apelo da China ao diálogo para acabar com a guerra.
A China fechou uma parceria "sem limites" com a Rússia no ano passado, semanas antes da invasão da Ucrânia, e tem culpado a expansão da Otan por desencadear a guerra, ecoando o argumento russo.
(Reportagem de Yew Lun Tian, Laurie Chen, Ryan Woo e da Redação de Pequim)