BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Educação, Cid Gomes, pediu demissão do cargo nesta quarta-feira, afirmou o Palácio do Planalto em nota, depois de uma sessão tumultuada na Câmara dos Deputados e para evitar que a já complicada relação do governo com a base aliada se tornasse ainda pior.
A saída de Cid havia sido adiantada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), numa declaração em plenário pouco depois de o ministro ter discursado na Casa e trocado farpas com diversos deputados.
Depois do episódio, Cid alegou não ter mais condições de permanecer no cargo e a presidente Dilma Rousseff aceitou seu pedido de demissão. O secretário-executivo da pasta, Luiz Cláudio Costa, assume o ministério interinamente.
"Minha declaração e a forma como coloquei minha posição na Câmara criou dificuldades para a base do governo", disse o ministro a jornalistas após pedir demissão à presidente no Palácio do Planalto.
"A conjuntura política impede minha presença no governo", acrescentou.
O bate-boca com deputados na tarde desta quarta-feira só foi encerrado quando ele deixou a tribuna e o plenário da Casa antes do término da sessão da qual participava. Ele chegou a ser chamado de "palhaço" e teve seu microfone desligado.
"ACHACADORES"
Cid participou da Comissão Geral na Câmara dos Deputados para explicar sua declaração de que haveria no Congresso Nacional "300 ou 400 achacadores" que se aproveitam da fragilidade do governo.
Ele se desculpou e argumentou que a afirmação havia sido feita em caráter privado, mas provocou reações dos deputados ao afirmar, da tribuna, que aqueles da base que não votam como governo deveriam "largar o osso".
"Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição, partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso. Saiam do governo", declarou.
Cid chegou a apontar para Cunha e afirmar que preferia ser acusado de ser mal-educado do que "ser como ele, acusado de achaque", como disse a manchete de um jornal.
O clima esquentou ao ponto de o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), ter pedido a cabeça do ministro.
Cunha prometeu processar Cid e o procurador da Câmara, deputado Claudio Cajado (DEM-BA), disse que entrou com processos contra Cid para que ele aponte quem seriam os "achacadores".
Após o anúncio da demissão e questionado se a atitude do Planalto pode facilitar a relação com a base aliada, principalmente na Câmara, onde enfrenta os maiores problemas, Picciani afirmou que o governo não tinha outra alternativa.
"Não tomar essa atitude seria muito ruim, seria uma mensagem de que o governo concordava com essa atitude (do ministro)", disse o líder a jornalistas. "Não esperávamos outra atitude que não fosse essa."
Ex-governador do Ceará, Cid defendeu a ideia, no fim do ano passado, de criar uma frente de partidos mais à esquerda para apoiar e garantir governabilidade à presidente no Congresso. Ele deixou o PSB e filiou-se ao Pros quando os socialistas romperam com Dilma para construir candidatura própria à Presidência da República.
(Por Maria Carolina Marcello, com reportagem de Jeferson Ribeiro)