Por Jake Spring
SÃO PAULO (Reuters) - Enchentes recordes que deixaram mais de 170 mortos e deixaram meio milhão desabrigadas no sul do Brasil são um sinal de alerta de que mais desastres estão a caminho das Américas devido às mudanças climáticas, disse uma autoridade da agência de refugiados da ONU nesta terça-feira.
Quase 389.000 pessoas no Rio Grande do Sul continuam afastadas de suas casas por causa das intensas chuvas e enchentes que, segundo autoridades locais, são o pior desastre da história da região. Cientistas afirmam que mudanças climáticas tornaram as inundações duas vezes mais prováveis.
Andrew Harper, conselheiro especial sobre ações climáticas da agência de refugiados da ONU, visitou no fim de semana um bairro inundado na capital do Estado, Porto Alegre, e a chamou de "cidade fantasma".
"Ficou debaixo de água por quase 40 dias. Não havia nem ratos correndo para lá e para cá. Tudo morreu", afirmou Harper em uma entrevista nesta terça-feira.
Mesmo depois que as águas da enchente baixaram, os moradores ainda não retornaram a bairros onde as ruas estão cheias de lixo e destroços. Muitos continuam vivendo em abrigos, incluindo refugiados venezuelanos que haviam se realocado para Porto Alegre.
A agência da ONU ajuda o governo local a construir moradias temporárias.
Moradores de algumas áreas duramente atingidas podem nunca mais voltar, pois foram forçados a se mudar devido às repetidas inundações, disse Harper. Mas só será conhecido o total dos chamados migrantes climáticos anos após o desastre.
As inundações superaram todas as expectativas das autoridades locais para desastres climáticos e os governos precisam fazer mais para se preparar para esses eventos, disse Harper.
“Estamos vendo no Brasil o que talvez podemos ver em todas as Américas. Então, quem ignorar isso o faz por sua própria conta e risco”, disse Harper.
Para ele, governos precisam entender onde moram as pessoas mais vulneráveis às mudanças climáticas, como o bairro que ele visitou em Porto Alegre, e incluir essas pessoas em seus planos climáticos.
"É um sinal de alerta, mas estamos vendo sinais de alerta agora há cinco ou dez anos", acrescentou Harper.
"Em que momento você basicamente tem que dar um tapa na cara de alguém e dizer: 'Acorde, você não pode ignorar isso'."
(Reportagem de Jake Spring; Reportagem adicional de Diego Vara em Porto Alegre)