Por Kate Kelland
LONDRES (Reuters) - Um cientista chinês rebelde que causou revolta no ano passado ao dizer que criou os primeiros bebês "editados geneticamente" do mundo na tentativa de protegê-los do HIV também pode tê-los colocado em perigo com uma escolha "tola" de genes, disseram especialistas nesta segunda-feira.
He Jiankui, à época um professor associado da Universidade de Ciência de Tecnologia do Sul de Shenzhen, na China, provocou uma crise científica e ética internacional quando disse que usou uma tecnologia conhecida como CRISPR-Cas9 para alterar os genes embrionários de duas gêmeas nascidas em novembro de 2018.
Ele disse ter visado um gene conhecido como CCR5 e editado-o de uma maneira que acreditou que protegeria as meninas de uma infecção de HIV, o vírus causador da Aids.
Mas em um estudo publicado no periódico científico Nature Medicine nesta segunda-feira, cientistas descobriram que pessoas que têm duas cópias de uma mutação chamada "Delta 32" do CCR5 --que blinda contra infecções de HIV em algumas pessoas-- também têm um risco consideravelmente maior de sofrer morte prematura.
Os pesquisadores Xinzhu Wei e Rasmus Nielsen, da Universidade da Califórnia em Berkeley, disseram que as conclusões mostraram as consequências imprevistas de se introduzir mutações em humanos.
Robin Lovell-Badge, geneticista de destaque e organizador de uma conferência na qual He Jiankui fez sua revelação, disse que os resultados apontaram que o cientista chinês "foi tolo ao escolher o CCR5 para uma mutação em suas tentativas de edição de genoma de linha germinal".
"Simplesmente ainda não sabemos o suficiente sobre o gene", disse Lovell-Badge, professor e especialista em genética do Instituto Francis Crick britânico.
Não foi possível contatar He Jiankui de imediato para obter comentários.