Por Daniel Ramos
LA PAZ (Reuters) - Confrontos entre forças de segurança e produtores de coca bolivianos leais ao ex-presidente Evo Morales deixaram oito mortos e mais de 100 feridos na noite de sexta-feira, disse o ouvidor regional à Reuters, levando Morales a denunciar um "massacre".
Morales renunciou sob pressão da polícia e das Forças Armadas da Bolívia no domingo passado, depois que relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA) apontou fraude eleitoral na vitória do então presidente na votação de 20 de outubro. Ele então se asilou no México.
O esquerdista e ex-produtor de coca chamou sua saída do poder de "golpe" e criticou as crescentes acusações de repressão dura pelas forças de segurança bolivianas.
"Os líderes do golpe massacram povos indígenas e humildes porque elas pedem por democracia", disse Morales no Twitter na sexta-feira, após relatos de mortes.
A violência na Bolívia se soma a uma onda de agitação na região, incluindo no vizinho Chile, onde protestos contra as desigualdades sociais saíram de controle e deixaram pelo menos 20 mortos.
O ouvidor regional de Cochabamba, Nelson Cox, disse que os registros hospitalares na região de cultivo de coca mostram que a "grande maioria" das mortes e ferimentos de sexta-feira foi causada por disparos de arma de fogo. Ele chamou a reação das forças de segurança da região de "ato de repressão".
"Estamos trabalhando com a ouvidoria nacional para realizar autópsias para determinar a causa da morte e buscar justiça para essas vítimas", afirmou Cox à Reuters em entrevista na manhã de sábado.
Os apoiadores de Morales continuam agindo, bloqueando as principais vias, cortando oleodutos e lançando protestos em massa nas ruas de La Paz, El Alto e nas regiões de cultivo de coca há muito tempo leais a ele.
Embora a capital La Paz estivesse calma no sábado de manhã, os bloqueios nas rodovias provocaram pânico nas ruas, com muitos correndo para acumular mantimentos, já que os suprimentos estavam diminuindo e os preços subiram.
O ouvidor nacional da Bolívia disse na sexta-feira que o total de mortes atingiu 19 desde as eleições de 20 de outubro, número que se acelerou na última semana.
A crescente quantidade de corpos levou Morales a adotar um tom mais conciliatório com o governo da presidente interina, Jeanine Añez, nos últimos dias.
"Por uma questão de democracia, se eles não querem que eu participe, não tenho problema em não participar de novas eleições", disse Morales à Reuters em entrevista na Cidade do México.