Por Orhan Coskun
ANCARA (Reuters) - O porta-voz do presidente turco, Tayyip Erdogan, disse nesta quarta-feira que os comentários do conselheiro de segurança nacional dos EUA a respeito da situação econômica da Turquia é prova de que o governo norte-americano está alvejando um aliado da Otan como parte de uma guerra econômica.
Em uma declaração por escrito em resposta a uma entrevista que John Bolton concedeu à Reuters, o porta-voz de Erdogan, Ibrahim Kalin, disse que as políticas mais recentes do governo dos EUA estão em desacordo com os princípios e valores fundamentais da Otan.
Turquia e Estados Unidos estão envolvidos em uma profunda disputa focada em um pastor norte-americano sendo julgado por acusações de terrorismo na Turquia. A crise provocou uma forte queda da lira, que perdeu mais de um terço do seu valor em relação ao dólar este ano.
Bolton havia dito durante uma visita a Israel que estava cético sobre a promessa de 15 bilhões de dólares em investimento à Turquia feito pelo emir do Catar, que era "insuficiente para ter um impacto sobre a economia da Turquia".
"A declaração dele é a prova de que o governo Trump está alvejando um aliado da Otan como parte de uma guerra econômica", disse Kalin.
"O governo Trump determinou que pretende usar o comércio, as tarifas e as sanções para iniciar uma guerra comercial global", declarou ele, apontando para disputas similares com México, Canadá, Europa e China.
"A Turquia não tem intenção de iniciar uma guerra econômica com qualquer lado. Não se pode esperar, porém, que se mantenha em silêncio diante dos ataques contra a economia e o Judiciário", afirmou.
Kalin disse que a Turquia trabalharia com o restante do mundo contra medidas restritivas e punitivas.
"As políticas mais recentes do governo dos EUA estão em desacordo com os princípios e valores fundamentais da aliança da Otan", acrescentou.
"DESRESPEITO"
O porta-voz do presidente turco criticou ainda o que considerou desrespeito dos Estados Unidos pelo processo legal da Turquia, acrescentando que Washington fez exigências e comentários arbitrários no caso do pastor detido.
Kalin pediu aos EUA que respeitem a independência judicial da Turquia, uma das respostas mais contundentes de Ancara às críticas sobre a detenção do pastor cristão evangélico Andrew Brunson.
"Há um Estado de Direito na Turquia e o caso de Andrew Brunson é uma questão legal. Há um processo legal em andamento relacionado a esse indivíduo", afirmou Kalin na declaração à Reuters.
"É evidente que consideramos inaceitável o desrespeito ao processo legal pelos Estados Unidos, que vem fazendo certas exigências."
Seus comentários foram feitos depois que Bolton disse à Reuters que a Turquia cometeu um "grande erro" ao não libertar Brunson.
O pastor evangélico, que vive na Turquia há duas décadas, foi condenado a 21 meses de prisão por acusações de terrorismo, que ele nega. Atualmente ele está sob prisão domiciliar.