Por Richard Cowan e Susan Cornwell
WASHINGTON (Reuters) - Democratas da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos anunciaram acusações formais de impeachment contra Donald Trump nesta terça-feira, o que o torna o quarto presidente da história dos EUA a enfrentar uma tentativa formal para removê-lo do cargo.
É quase certo que a Câmara, controlada pelos democratas, votará pelo impedimento do presidente, o que pode acontecer já na próxima semana. Em seguida, um julgamento aconteceria no Senado, de maioria republicana, no início do ano que vem, pouco antes do pontapé inicial para a eleição presidencial de 2020, com as primárias de Iowa e New Hampshire.
A tentativa de retirar Trump do poder tem poucas chances de sucesso. Ao menos 20 senadores republicanos precisariam votar pelo impeachment, e até agora nenhum deles indicou que considera tal medida.
O Senado pode optar por renunciar a um julgamento completo e, em vez disso, apontar seu voto após os democratas da Câmara e a defesa de Trump realizarem seus argumentos iniciais, disse em entrevista coletiva o líder republicano no Senado, Mitch McConnell. Isso pode contrariar os desejos de Trump, que quer convocar suas próprias testemunhas.
O pedido de impeachment acusa Trump de "trair" o país através de abuso de poder em um esforço para pressionar a Ucrânia a investigar um rival político e, após isso, obstruir a investigação do Congresso sobre o escândalo.
O presidente do Comitê Judiciário da Câmara, Jerrold Nadler, disse a repórteres que os democratas tiveram de agir porque Trump ameaçou a Constituição dos EUA, minou a integridade da eleição de 2020 e colocou a segurança nacional em perigo.
"Ninguém, nem mesmo o presidente, está acima da lei", disse Nadler em uma coletiva de imprensa para anunciar as acusações formais de impeachment. Ele estava acompanhado pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e por outros líderes democratas.
Seu painel pode tomar a dianteira das acusações a partir de quarta-feira, antes da votação por todo o plenário da Câmara.
"Nossas eleições são um pilar da democracia... a integridade de nossa próxima eleição está ameaçada por um presidente que já tentou buscar interferência estrangeira nas eleições de 2016 e 2020", disse Nadler.
Trump nega qualquer irregularidade e qualificou o inquérito de impeachment como uma farsa.
A Casa Branca, que se recusa a participar das audiências da Câmara alegando que o processo é injusto, acusou os democratas de realizarem uma tentativa "infundada e partidária" de reverter os resultados da eleição de 2016.
"O presidente tratará destas acusações falsas no Senado e acredita que será totalmente inocentado, porque não fez nada de errado", disse a porta-voz da Casa Branca, Stephanie Grisham.
Depois que os artigos de impeachment foram anunciados, Trump tuitou "CAÇA ÀS BRUXAS!".
Trump é o quarto presidente da história norte-americana a enfrentar o impeachment.
Em 1998, o presidente democrata Bill Clinton teve o impeachment votado por mentir sobre relações sexuais que manteve com uma estagiária da Casa Branca, mas acabou inocentado no Senado.
O republicano Richard Nixon, por sua vez, renunciou em 1974, antes de encarar o impeachment por seu envolvimento no escândalo do Watergate. Já o democrata Andrew Johnson teve o impedimento votado em 1868, mas não foi condenado pelo Senado.
Os democratas avançaram rapidamente desde que iniciaram o inquérito em 24 de setembro, reagindo à denúncia de um delator que mostrou preocupação com uma conversa telefônica de 25 de julho na qual Trump pediu ajuda do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, para investigar o ex-vice-presidente Joe Biden, um dos favoritos à indicação democrata para enfrentar Trump na eleição do ano que vem.
(Reportagem de Susan Cornwell, Richard Cowan, David Morgan, Doina Chiacu, Patricia Zengerle, Ginger Gibson, Chris Kahn e Susan Heavey)