Por Nidal al-Mughrabi
CAIRO (Reuters) - Para um pai de Gaza, a morte de Yahya Sinwar em combate tentando repelir um drone com um pedaço de pau foi "a forma como os heróis morrem", e, para outros, um exemplo para gerações futuras, mesmo enquanto alguns lamentavam o custo desastroso da guerra que ele desencadeou com Israel.
Sinwar, o arquiteto do ataque mortal do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 que desencadeou o conflito em Gaza, foi morto na última quarta-feira em um tiroteio com as forças israelenses após uma caçada de um ano, e sua morte foi anunciada na quinta-feira.
A imprensa israelense o descreveu como tendo morrido "como um cão de Gaza" e muitas nações ocidentais disseram que sua morte pode ter removido um obstáculo importante para se chegar a um cessar-fogo.
Mas o vídeo dele mascarado e mortalmente ferido em um apartamento destruído por bombas, tentando arremessar um pedaço de pau no drone que o filmava, inspirou orgulho entre os palestinos.
"Ele morreu usando um colete militar, lutando com um rifle e granadas, e quando foi ferido e estava sangrando, lutou com um pedaço de pau. É assim que os heróis morrem", disse Adel Rajab, 60 anos, pai de dois filhos em Gaza.
"Assisti ao vídeo 30 vezes desde a noite passada, não há melhor maneira de morrer", disse Ali, um motorista de táxi de 30 anos em Gaza.
"Farei desse vídeo uma obrigação diária para meus filhos e meus netos no futuro", afirmou o pai de dois filhos.
O ataque que Sinwar planejou contra as comunidades israelenses há um ano matou cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e outras 253 foram arrastadas de volta para Gaza como reféns, de acordo com os registros israelenses.
A guerra subsequente de Israel devastou Gaza, matando mais de 42.000 palestinos, e acredita-se que outros 10.000 mortos não contabilizados estejam sob os escombros, segundo as autoridades de saúde de Gaza.
As próprias palavras de Sinwar em discursos anteriores, dizendo que ele preferia morrer nas mãos de Israel do que de um ataque cardíaco ou acidente de carro, foram repetidamente compartilhadas pelos palestinos online.
"O melhor presente que o inimigo e a ocupação podem me oferecer é me assassinar e que eu morra como um mártir nas mãos deles", disse.
FERRAMENTA DE RECRUTAMENTO
Agora, alguns palestinos estão se perguntando se Israel se arrependerá de permitir que a realização desse desejo seja transmitida como uma possível ferramenta de recrutamento para uma organização que jurou destruir.
"Disseram que ele estava se escondendo dentro dos túneis. Disseram que ele mantinha prisioneiros israelenses ao seu lado para salvar sua vida. Ontem, vimos que ele estava caçando soldados israelenses em Rafah, onde a ocupação está operando desde maio", disse Rasha, uma mãe de quatro filhos, de 42 anos, deslocada.
"É assim que os líderes agem, com um rifle na mão. Apoiei Sinwar como líder e hoje tenho orgulho dele como mártir", acrescentou.
Uma pesquisa realizada em setembro mostrou que a maioria dos habitantes de Gaza acha que o ataque em Israel foi uma decisão errada e um número crescente de palestinos questionou a disposição de Sinwar de iniciar uma guerra que lhes causou tanto sofrimento.
Rajab, que elogiou a morte de Sinwar como heroica, afirmou que não apoiou os ataques de 7 de outubro, acreditando que os palestinos não estavam preparados para uma guerra total com Israel. Mas ele disse que a maneira como ele morreu "me deixou orgulhoso como palestino".
(Reportagem de Nidal al-Mughrabi no Cairo e Ali Sawafta em Ramallah)