Por Robin Emmott e Francesco Guarascio
BRUXELAS (Reuters) - As eleições de domingo na Turquia podem marcar uma virada nas relações com a União Europeia ao ajudar o projeto do presidente turco, Tayyip Erdogan, de acumular mais poder ou colocar em xeque um líder que muitos na Europa acusam de crescente autoritarismo.
A segunda eleição geral turca em cinco meses se dá num momento crítico para Bruxelas, que está sinalizando a possibilidade de um relançamento das negociações para a entrada da Turquia na UE, em troca da ajuda do país para lidar com a maior crise de imigração no continente desde a Segunda Guerra Mundial.
Mesmo cientes das suas tendências autoritárias, alguns líderes europeus têm mostrado uma nova e pragmática postura em relação a Erdogan nas últimas semanas, parecendo colocar um acordo sobre refugiados acima das preocupações com a piora dos direitos humanos.
Temores sobre a segurança num país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), com fronteira com a Síria e o Iraque, também são relevantes.
Enfrentar Erdogan "não resultará em nada no momento", disse o chefe-executivo da Europa, Jean-Claude Juncker, ao Parlamento Europeu nesta semana, uma mudança notável que tem ficado evidente desde que Erdogan foi recebido com toda a pompa de uma visita de Estado na Bélgica no início do mês.
"Se isso é bom para nós ou não, se nós gostamos ou não, nós temos que trabalhar juntos com a Turquia", afirmou Juncker, após parlamentares terem levantado questões sobre o retrospecto no campo dos direitos do país candidato a entrar na UE.
Um relatório da Comissão Europeia, retido até depois da eleição para evitar problemas com Erdogan, acusa Ancara de retrocessos no Estado de direito, liberdade de expressão, independência do Judiciário, de acordo com esboço visto pela Reuters.
No entanto, se o partido AK, de raízes islâmicas, que Erdogan fundou, não conseguir mais uma vez maioria nas eleições de domingo, como a maioria das pesquisas indica que isso pode acontecer, o movimento político e o líder que dominam a Turquia há 13 anos podem ser forçados a compartilhar o poder pela primeira vez. Uma tarefa que não será fácil para um homem que no passado associou a oposição política com terrorismo ou traição.
Uma coalizão com o segundo maior partido da Turquia, o secular CHP, poderia manter pessoas experientes no poder e ao mesmo tempo conter os instintos autoritários de Erdogan, dizem autoridades europeias e investidores estrangeiros.
Isso seria uma derrota pessoal para Erdogan que, depois de 11 anos como primeiro-ministro, venceu a primeira eleição popular para presidente da Turquia no ano passado com o objetivo de usar a grande maioria do AK para conferir ao seu posto, em grande parte cerimonial, poderes executivos amplos. A democracia parlamentar viraria um sistema presidencialista.
"Um governo de coalizão seria bom para o país", afirmou uma das autoridades da UE envolvidas na discussão. "Um mandato forte para Erdogan não seria tão bom para o plano sobre refugiados da UE."
(Reportagem adicional de Alastair Macdonald)