BAGDÁ (Reuters) - O cego com uma mão chegou à principal mesquita do centro da cidade iraquiana de Ramadi na madrugada de quarta para quinta-feira, flanqueado por combatentes do Estado Islâmico.
Ao final das preces noturnas, o homem, com a cabeça coberta de preto, fez um discurso aos fiéis, louvando a captura da capital da província de Anbar efetuada pelo Estado Islâmico – sua maior vitória sobre forças iraquianas em quase um ano.
Ali Attiya al-Jubouri, conhecido por muitos como "o juiz cego", é um dos maiores veteranos do Estado Islâmico, e sua presença na mesquita foi um sinal do domínio do grupo sobre a cidade, que tomou das forças do governo em 17 de maio.
"Com a bênção de Deus, agora temos uma estrada aberta entre Ramadi e Raqqa", disse, referindo-se à capital de fato da facção radical na vizinha Síria. "Vocês estão livres para viajar para lá e trabalhar no comércio, e iremos ajudá-los de todas as maneiras", afirmou, de acordo com um morador da cidade entre os ouvintes.
O grupo sunita declarou um califado, ou Estado Islâmico, em vastas porções da Síria e do Iraque, desafiando as forças governamentais hostis e os ataques aéreos conduzidos pelos Estados Unidos nos dois países.
Apesar de instilarem medo com sua reputação de usar violência extrema contra seus inimigos, os militantes do Estado Islâmico fizeram de tudo para conquistar os moradores de Ramadi, oferecendo serviços básicos e governança, afirmaram moradores que conversaram com a Reuters por telefone.
A maioria dos locais fugiu, mas os que ficaram estão desfrutando o que descrevem como uma fachada de ordem e tranquilidade em uma cidade que durante mais de um ano foi transformada em uma verdadeira zona de guerra.
"No momento estamos vivendo o sonho agradável de viver em paz, sem ouvir disparos ou bombas e andando livremente pelas ruas desocupadas", disse Abdul Wahab Ahmed, professor de 45 anos, que comparou a nova ordem a "dar um copo de água fresca aos sedentos".
Entretanto, a calmaria não deve durar, já que as forças de segurança do governo e paramilitares xiitas já preparam uma contra-ofensiva para retomar a cidade. "O sonho não irá durar, e logo iremos despertar para a realidade amarga de estar presos no fogo cruzado entre as forças do governo e os combatentes do Estado Islâmico", disse.