SÃO PAULO (Reuters) - Dirigido por Flávio Ramos Tambellini, “A Glória e a Graça” é um drama centrado na relação entre duas irmãs: Graça (Sandra Corveloni), uma massagista, mãe solteira de dois filhos, e Glória (Carolina Ferraz), que nasceu Luiz Carlos mas há anos assumiu-se como uma bem-sucedida travesti dona de um restaurante em Santa Teresa, no Rio.
Há 15 anos as duas não se falam, e assim continuariam se não houvesse um incidente dramático: Graça descobre ter um aneurisma que pode, a qualquer momento, ser fatal. Como os pais de seus dois filhos, a adolescente Papoula (Sofia Marques) e o garoto Moreno (Vicente Kato), estão fora do alcance, ela retoma o contato com o irmão, cuja transformação ela ignorava e é o primeiro choque no reencontro.
Transformada fisicamente por uma prótese bucal e com a voz alterada por um treinamento para engrossá-la, Carolina Ferraz lidera um projeto que ela abraçou e, visivelmente, é moldado para dar-lhe protagonismo. Há quase dez anos, tenta-se fazer o filme, a partir de um argumento inicial de Mikael Albuquerque, que teria um diretor norte-americano, o que não se realizou.
Carolina comprou os direitos da história e tentou, junto a outro diretor (Rogério Gomes), produzi-la. Dificuldades de conciliação de agenda entre os dois e também de financiamento, pois a presença de um travesti na trama afugentava alguns investidores, fizeram com que somente agora o filme saia do papel.
Num roteiro que foi trabalhado por Lusa Silvestre e também pelo próprio Albuquerque, sobram situações de confronto entre as duas irmãs estremecidas por rancores do passado. As desavenças entre as duas, no entanto, começam a ceder lugar a um questionamento de Glória sobre a responsabilidade de cuidar dos sobrinhos, caso a irmã eventualmente morra.
Pensando nessa possibilidade de abrir mão de sua liberdade, numa vida de conforto financeiro e independência que muito lhe custou, Glória hesita em colocar-se à disposição da irmã. Ainda assim, forma um relacionamento com os sobrinhos que serve para humanizar a personagem, a princípio num registro muito agressivo.
O roteiro eventualmente derrapa em situações um pouco forçadas, como numa intervenção de Glória contra garotas que faziam bullying contra a sobrinha e mais ainda numa saída noturna da personagem que termina numa agressão.
A intenção, visivelmente, é colocar em pauta a aceitação das travestis, o que é feito com a inserção de duas outras personagens, Fedra (Carol Marra) e a recepcionista do restaurante (Majorie Marchi), interpretadas respectivamente por uma transexual e uma travesti. Mais ainda, coloca-se em cheque essa aceitação com o início de uma paquera a Glória por um músico (César Mello) – a cujo desenrolar o filme parece não ter tido coragem de dar nenhum encaminhamento.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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