SÃO PAULO (Reuters) - Se o título de “Como Eu Era Antes de Você” remete ao passado, o próprio filme é um resgate de velhos e novos clássicos de uma espécie de subgênero: o do romance de hospital. No entanto, sua origem está no best-seller homônimo de Jojo Moyes, autora inglesa que assina o roteiro adaptado do debut de sua compatriota Thea Sharrock, experiente diretora de teatro.
Completando o trio feminino à frente da produção, está Emilia Clarke, que bem longe de seus dragões de “Game of Thrones”, encarna a protagonista que se apresenta apenas como Louisa Clark, ou simplesmente Lou, mas poderia se autointitular a rainha das roupas coloridas.
A garota de 26 anos perde o seu emprego no café local de uma pequena cidade britânica –as locações são no País de Gales– onde as ofertas de trabalho são mínimas, vide as dificuldades de sua família com o pai desempregado (Pablo Raybould). É então que aparece a oportunidade de trabalhar como cuidadora –mais como acompanhante do que enfermeira, já que Nathan (Stephen Peacocke) é responsável pela parte física– de um tetraplégico na aristocrática casa da família dona do castelo que é o principal atrativo da região.
O cenário reforça o tom de conto de fadas que permeia a história, mas o príncipe em questão se defende da vida em seu mau humor e sarcasmo que iniciam uma relação nada amigável com a moça. Will Traynor (Sam Claflin) trabalhava no mercado financeiro, em Londres, e gastava seu tempo livre com a bela namorada praticando vários esportes até que um acidente, dois anos antes, lhe causou a paralisia que, além de lhe infligir graves dores e complicações, mentalmente ele não consegue superar. Cabe a Lou, que, por sinal, tem um namorado mais preocupado consigo mesmo (Matthew Lewis, o Neville de “Harry Potter”), superar as barreiras iniciais e fazer com que ele passe a apreciar mais a vida. O resto você já pode imaginar.
A adaptação de Jojo é até bem fiel ao livro, mas perde um pouco da construção dos personagens vista no texto original, especialmente quando seu roteiro deixa de lado um fato importante do passado da protagonista que explica melhor suas escolhas de vida até então.
As montagens ao som de músicas indie pop românticas, com direito a Ed Sheeran, são um dos clichês da direção estreante de Sharrock, marcada por uma mise-en-scène convencional que dá destaque à arte, pontuando as diferenças sociais entre os núcleos, e às cores do figurino.
Esse conjunto já tão conhecido funciona bem, em grande parte graças à química entre os protagonistas que conquista a plateia. Mesmo estando um tom acima, Clarke sustenta uma personagem que facilmente cai na caricatura.
Apesar das restrições da condição de Will, o também inglês Claflin, mais conhecido pelo Finnick de “Jogos Vorazes”, entrega o charme e a fragilidade necessárias.
Somente no final, o longa prefere seguir um caminho diferente das fórmulas românticas, tal qual o livro, entrando em um terreno de questionamento moral de uma maneira que parece mais manipulativa do que construtiva.
Como o sofrimento de Will é sempre verbalizado e sugerido pela contraposição a sua antiga vida extremamente ativa, mas quase nunca mostrado através de imagens, sua decisão não se sustenta. Não que o espectador que discorde dele não consiga compreender o personagem e rejeitar a história apenas por isso, mas o discurso do filme enfraquece com o contraditório conselho na fala final.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
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