SÃO PAULO (Reuters) - Dois fatos chamam a atenção em “Tangerine”, dirigido e roteirizado pelo cineasta americano Sean Baker (de “Uma Estranha Amizade”) em 2015. O primeiro é ter sido filmado inteiramente por smartphones e aplicativos em apenas um mês. O segundo, que não é apenas o retrato realista que faz sobre a indústria do sexo pago em Los Angeles, mas a emotividade que transborda a partir de suas protagonistas, duas prostitutas transgênero.
Se os elementos combinados já despertam, no mínimo, curiosidade, a agilidade da narrativa, a solidez do roteiro, o excepcional trabalho do elenco e a sofisticação visual de Baker trazem uma vivacidade à produção, para muito além dos entusiasmos técnico e da comunidade LGBTTT. Esta, aliás, fez uma ostensiva campanha para o filme ser indicado ao Oscar, infelizmente, sem resultados.
A história criada por Baker e Chris Bergoch (com quem já havia trabalhado em “Uma Estranha Amizade”), começa quando as duas garotas de programa transgênero Sin-dee (Kitana Kiki Rodriguez) e Alexandra (Mya Taylor) se encontram na véspera de Natal, assim que a primeira deixa a prisão. Por meio da amiga, Sin-dee descobre que seu namorado e cafetão Chester (James Ransone) a traiu com outra e, em uma afronta, uma cisgênero (Mickey O'Hagan).
Transtornada pela traição, sai às ruas em busca do namorado e da amante, apesar de apenas achar que o nome dela pode, ou não, começar com a letra D. Sobra para Alexandra ajudar a ensandecida, verborrágica e violenta amiga a encontrar seu objetivo, mas “apenas se não a envolver em seus dramas”. O que ocorre logo nas primeiras cenas.
Como uma subtrama, o roteiro também explora o personagem de Razmik (Karren Karagulian), um taxista armênio casado, cuja família desconhece seu apreço por prostitutas transgênero. Quando sabe que Sin-dee está de volta ao bairro, sai em seu encalço, sem perceber que a sogra o segue, desconfiada de suas estripulias.
Embora a realidade das personagens as coloque à margem da sociedade, o diretor eleva o tom do humor e evita juízos de valor. Assim, esquiva-se de uma possível dupla vitimização: a de mostrá-las como coitadas (e não como sujeitos de direitos que são), e, com isso, diferenciá-las do restante da população (o que poderia ser considerado esnobismo social). Afinal, trata-se de um filme sobre sonhos, corações partidos e amizade. Nada mais universal.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
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