SÃO PAULO (Reuters) - Nova produção da Pixar, "Divertida Mente" vai bem mais longe do que normalmente se espera de uma animação, num filme que não se vale só de seu apuro técnico, nem do atrativo do 3D, mas investe num roteiro afiado, capaz de contemplar temas sérios e divertir muito ao mesmo tempo.
O segredo é a criatividade com que este roteiro, assinado pelo diretor Peter Docter, seu co-diretor Ronnie Del Carmen, Meg LeFauvre e Josh Cooley, materializa o interior da cabeça de uma menina de 11 anos, Riley, dando a cada uma de suas emoções um corpo e uma cara. Assim, a Alegria (voz de Miá Mello na versão nacional), a Tristeza (Katiuscia Canoro), a Raiva (Léo Jaime), o Medo (Otaviano Costa) e o Nojinho (Dani Calabresa) se acomodam na central de comando da mente da garota, num ambiente com geografia toda particular.
Um grande acerto está em manter um certo ar retrô na configuração deste espaço. Assim, a mesa de controle lembra a de uma antiga nave espacial dos seriados dos anos 1960. As esferas de memória da garota, por sua vez, parecem bolas de boliche, ainda mais que se enfileiram barulhentamente em pistas, rumo ao setor de Memória de Longo Prazo.
Nesta mente ainda enraizada na infância, uma profunda transformação vai abalar não só a liderança da Alegria sobre as demais emoções, como suas próprias bases, as ilhas da Família, Honestidade, Hóquei e Bobeira. A revolução acontece devido à mudança de estado, do nevado Minnesotta para a solar Califórnia, na cidade de San Francisco.
Do dia para a noite, ficaram para trás os amigos e tudo o que constituía o mundo protegido de Riley. Sintomaticamente, um acidente na central interna de comando lança a Alegria e a Tristeza para fora dali, deixando a Raiva, o Medo e o Nojinho no controle. Ou seja, bem-vindos ao mundo instável da adolescência.
Mantém-se a história num bom ritmo alternando as desventuras de Riley neste novo cotidiano, os conflitos com os pais e a confusão em sua mente, com a Alegria e a Tristeza vivendo uma epopeia para voltar à central de comando, atravessando locais como a Terra da Imaginação e o Pensamento Abstrato.
Com uma fartura incrível de detalhes e viradas na aventura, o filme dá conta de entreter tanto adultos como crianças – embora seja visível que não se destina às muito pequenas, por questão apenas de compreensão do enredo. Seu foco maior está claramente nos adolescentes.
As boas sacadas incluem uma visita à mente da mãe e do pai da menina – uma ótima piada sobre as diferenças entre os sexos –, a central de produção dos sonhos como um estúdio de filmagem e uma espiada na cabeça especial dos gatos, no final.
Por essas e mais outras é que se espera que "Divertida Mente", que desfrutou de uma première mundial com ótima recepção no Festival de Cannes, tenha lugar garantido no Oscar 2016 e não apenas na categoria de animação. Este roteiro poderia perfeitamente figurar entre os indicados no ano que vem.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb