SÃO PAULO (Reuters) - O novo filme familiar de Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli, a comédia musical “Amor em Sampa”, é um raro esforço em um gênero pouco explorado no Brasil.
Porém, por mais que sejam louváveis as boas intenções do projeto, o longa roteirizado pela atriz e dirigido pelo ator junto com o filho deles, Kim Riccelli – que foi assistente do pai em outros dois trabalhos do casal, “Onde Está a Felicidade?” (2011) e “O Signo da Cidade” (2007) –, falha em vários aspectos de sua construção narrativa. Peca justamente por ter uma visão limitada da homenageada metrópole em questão.
Na tentativa de traduzir a pluralidade da capital paulista, Lombardi faz um exercício semelhante ao que realizou em “Signo”, ao optar por uma coletânea de histórias e personagens. Aqui, quem conduz as cinco tramas é o taxista Cosmo, interpretado pelo próprio Riccelli, que também vive seus dilemas com as mulheres, incluindo a interesseira modelo Lara (Miá Mello).
Um de seus clientes e seu grande amigo é o prestigiado publicitário Mauro (Rodrigo Lombardi), que, além de enfrentar o desafio de viabilizar um projeto sustentável para São Paulo, tenta quebrar a barreira sentimental criada pela estilista Tutti (Mariana Lima), após alguns problemas pessoais.
Enquanto isso, o assistente dela, Raduan (Tiago Abravanel), sofre com o medo do parceiro, Ravid (Marcello Airoldi), de assumir o compromisso deles publicamente. A acionista do maior cliente de Mauro, a impenetrável Aniz (Bruna Lombardi), estabelece uma relação de gato e rato com Lucas (Eduardo Moscovis), o ambicioso gestor da empresa. E a peça patrocinada pela agência do publicitário serve de palco para um jogo de interesses entre as amigas e aspirantes a atrizes Mabel e Carol (Letícia Colin e Bianca Müller) com o diretor Mateus (Kim Riccelli).
A junção de musical, um gênero por si só muito complicado de manter o ritmo, com um filme-coral, cuja estrutura também dificulta a fluidez da narrativa, exige um domínio do cineasta, não demonstrado aqui. O roteiro de Bruna compensa a falta de tempo para o desenvolvimento dos personagens abusando dos estereótipos, com figuras femininas impregnadas de um caráter dúbio e uma visão machista. Nem texto nem direção são capazes de suavizar de modo inteligente os discursos morais e a agenda ecológica dos diálogos.
A boa impressão deixada pela contagiante canção que abre o longa, ao mesmo tempo crítica e terna ao falar da vida na metrópole, não se confirma. Compostas pela família – embora haja nos créditos um agradecimento a Charles Möeller e Claudio Botelho, conhecidos como “os reis dos musicais” –, as músicas são, em sua maioria, ruins.
Junto às letras fracas ou, às vezes, até de mau gosto – uma, especialmente, segue a onda da paródia “O Lado Bom de Ser Gay” do “Comédia MTV”, sem a perspicácia e ironia do antigo humorístico –, os números ainda demonstram a falta de preparação vocal de parte do elenco, que, fora deste quesito, não compromete o resultado final.
Contudo, há que se destacar a qualidade técnica da produção, em particular, a fotografia de Marcelo Trotta, mesmo que a lente de sua câmera se concentre mais no “skyline” paulistano com seus arranha-céus do que na sua população.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
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