SÃO PAULO (Reuters) - Cauby Peixoto, por mais caricata que tentem tornar a exibição de sua figura, é a voz brasileira. A voz que traduz de forma romântica, às vezes melodramática e até brega, a alma desse povo que cantarola pela vida.
A música brasileira já teve intérpretes vigorosos, como Nelson Gonçalves, Silvio Caldas, Francisco Alves, que representaram a fase de ouro do rádio brasileiro, mas a voz de Cauby atravessou todas essas décadas e chegou aos dias de hoje ainda segura e potente.
Ele próprio se surpreende com algumas transformações em seu timbre: "De onde surgiu esse grave?", pergunta curioso no documentário "Cauby - Começaria Tudo Outra Vez", de Nelson Hoineff, que chega finalmente aos cinemas.
Pode-se discordar de algumas opções do diretor, como inserir uma fala do cantor para mencionar relações homossexuais na infância – uma obstinação desses tempos de reality show de querer, a qualquer custo, que Cauby "confesse", enfim, ser homossexual – mas, inegavelmente, o filme resgata bons momentos de um dos maiores ídolos da música brasileira.
Avançado nos 80 anos – o cantor não revela a idade –, com dificuldades para se locomover sozinho, Cauby parece estar conformado em ser "apenas" uma voz. E que voz! Capaz de encantar um adolescente carioca, que parece viver em outra época, coleciona seus discos e sabe tudo da vida do artista, e manter o fascínio dos fãs do passado.
Mas Cauby merecia um documentário mais abrangente, que não se preocupasse excessivamente com sua aparência, suas roupas, a decoração de sua casa. Reservado, o cantor se solta um pouco mais ao falar que teve relações sexuais com outros garotos, mas que depois "começou a andar direito".
Bastou para que a declaração fosse usada de forma sensacionalista pela imprensa, dias antes de o filme ser lançado. O efeito óbvio é alavancar a carreira do filme. Mas quem espera encontrar outras revelações bombásticas vai se decepcionar, pois o filme acaba sendo mais um bem-montado videoclipe do cantor, interpretando suas canções em várias fases da carreira. Mesmo depois do documentário, a voz resiste.
(Por Luiz Vita, do Cineweb)
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