SÃO PAULO (Reuters) - Com os documentários "Cientistas Brasileiros – César Lattes e José Leite Lopes" (87) e "O Longo Amanhecer – Cinebiografia de Celso Furtado" (2007), o cineasta José Mariani vem compondo uma obra centrada em figuras voltadas à elaboração de projetos para o Brasil em várias frentes.
A intenção reflexiva amadurece em outro documentário, "Um Sonho Intenso", que se dispõe a passar a limpo os principais momentos da história econômica e social do país dos anos 1930 até hoje. O filme foi lançado no Festival É Tudo Verdade 2014 e, desde então, vem percorrendo um circuito de universidades. Nesta semana, estreia em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Através de entrevistas com respeitados economistas, sociólogos e historiadores, entre eles Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa, Luiz Gonzaga Belluzzo, Francisco de Oliveira, João Manuel Cardoso de Mello, Lena Lavinas e José Murilo de Carvalho, bem como farto material de arquivo, estrutura-se uma obra de conteúdo sólido, com potencial para servir de ferramenta a análises fundamentais ao momento de mudança do país.
Personalidades como Getúlio Vargas são discutidas, por exemplo, pelo sociólogo Francisco de Oliveira, destacando seu papel de "construtor do Estado brasileiro moderno", uma imagem não raro contaminada pela visão dos que o enxergam apenas como o ditador, que ele também foi num período.
Também se explora o viés desenvolvimentista dos anos 1950, marcante na era Juscelino Kubitschek, o período de pressões sociais do governo João Goulart, a ditadura militar e seus sucessivos planos nacionais de desenvolvimento, seguindo uma visão autoritária.
Posteriormente, chega-se ao período democrático, pós-1985, as tentativas de estabilização econômica através de planos sucessivos, até culminar numa análise da era Lula e suas políticas de inclusão social.
Ao longo de todas as entrevistas, o eixo está em repensar o processo e a trajetória que tornam o país único, bem como seus desafios e conciliações, projetando formas de superação de dilemas crônicos, como a desigualdade e os desequilíbrios regionais.
O economista João Manuel Cardoso de Mello avança sobre esse desejo de futuro: "Queremos virar uma caricatura dos EUA ou criar uma sociedade baseada em valores humanistas?". Outro economista, ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, reconhece as dificuldades da análise a partir da teoria econômica: "Já é difícil entender o presente. Particularmente difícil é prognosticar o futuro."
Muito saudável é essa postura de não pretender dar respostas definitivas a questões enormemente complexas. Mas os pontos de vista reunidos somam elementos críticos para pensar o Brasil de forma racional, com a vantagem de não recair num jargão tecnocrático.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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