SÃO PAULO (Reuters) - O ano de 2015 foi repleto de sequências de comédias nacionais: "Divã a 2", "Qualquer Gato Vira-Lata 2", "Meu Passado Me Condena 2" e "Meu Pequeno Dicionário Amoroso 2" fazem parte de uma série de continuações, que ainda conta com o lançamento de "Até Que a Sorte Nos Separe 3" em dezembro.
Antes disso, chega às telas "S.O.S. Mulheres ao Mar 2", de Cris D'Amato, cuja estreia, prevista para o próximo janeiro, foi antecipada agora para outubro. Em tempos de grande alta do dólar, o filme, que tem uma companhia de viagens e um banco especializado no setor de câmbio entre seus patrocinadores, além da empresa de cruzeiros do primeiro, parece ter sido adiantado para que o público, tentado a ir aos mais badalados destinos dos brasileiros com dinheiro para ir ao exterior, no caso, Miami, Orlando e Cancun, economize para as próximas férias desde já.
Neste segundo longa, a protagonista Adriana (Giovanna Antonelli), aproveitando o sucesso do seu livro de autoajuda, inspirado nas experiências que o público conferiu na produção anterior, que tem a segunda maior bilheteria entre filmes nacionais do ano passado, está cheia de novos projetos.
O excesso de trabalho leva a escritora a desprezar a grande chance profissional de seu namorado, o estilista André (Reynaldo Gianecchini). Mas, ao saber que a ex-noiva de seu companheiro, a top model Anitta (Rhaisa Batista), será o destaque do desfile dele em um cruzeiro, ela resolve voltar ao mar.
Para isso, conta novamente com a ajuda da irmã Luiza (Fabiula Nascimento, ganhando mais destaque nesta sequência) e da amiga Dialinda (Thalita Carauta), agora trabalhando de empregada numa suspeita família nos Estados Unidos. Entretanto, o trio não contava com uma série de obstáculos que as colocam, junto com o modelo Maurício (Felipe Roque, com o tipo perfeito para o papel) e o primo dele, Rafael (Gil Coelho) em uma desastrada corrida da Flórida a Cancun em busca do transatlântico.
O menor tempo passado em alto mar em comparação ao primeiro original é benéfico ao não dar a sensação de "mais do mesmo", embora o espaço dedicado ao turismo na Flórida seja no fundo a repetição das diversões no cruzeiro do anterior, que servem mais para distração e prejudicam a construção dos personagens, algo bem visível no roteiro de Sylvio Gonçalves e Bruno Garotti.
Apesar de menos histérica e mais crível, falta à Adriana de Antonelli e grande parte do elenco um traçado mais claro de seus papéis. O que dizer de Rafael, que nem como interesse romântico da protagonista se estabelece direito, sendo que Gil Coelho poderia dar mais gás ao tipo se houvesse um mínimo esforço do texto.
Ainda em uma comparação inevitável com o antecessor, D'Amato e sua dupla de roteiristas, que a acompanha durante sua carreira, têm ligeiros altos e baixos no novo trabalho, como a aposta em um humor que segue a trilha dos filmes de Judd Apatow e da trilogia "Se Beber, Não Case!" versus a recorrência a clichês da mulher dividida entre trabalho e relacionamento e/ou família e da velha rivalidade feminina.
Talvez a atenção da cineasta com seus personagens preocupados demais com a questão da juventude e velhice, já vista no seu outro longa lançado este ano, "Linda de Morrer" (2015), seja o lugar comum mais bem trabalhado na trama. Mas a sua direção intercala entre a eficiência e pequenas cacofonias visuais.
Na realidade, "S.O.S. Mulheres ao Mar 2" é melhor tradução das comédias brasileiras contemporâneas, quando ao mesmo tempo tenta parecer um filme hollywoodiano, mas conserva as estruturas novelescas e os tipos dos humorísticos nacionais, sem aproveitar o que há de melhor em cada um deles. A produção não aproveita bem – nem em termos cinematográficos e de narrativa, nem em questão de marketing – as locações de que dispõe nos Estados Unidos, diferente do que ocorre com as praias mexicanas.
Além dos agentes do FBI em uma versão tupiniquim, com destaque para Felipe Montanari, o longa apresenta uma vilã folhetinesca, o que por si só não seria ruim caso o leitor se recorde de icônicas antagonistas e de bons exemplos atuais de telenovelas. Porém, isso não ocorre, em parte, pela direção e, em grande conta, pela interpretação de Rhaisa, incapaz de tornar suas maldades críveis.
No final, apesar dos exageros e de uma construção estereotipadamente caricata, é Thalita Carauta na pele de Diolinda que, além de ter a trama mais interessante da história, é quem carrega o humor do filme na maior parte da exibição. Vale ainda ressaltar a participação de Luana Martau dublando a apresentadora do desfile, que mesmo sem ter uma clara justificativa, funciona muito bem.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
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