SÃO PAULO (Reuters) - Para fugir de seu violento ex-namorado, uma norte-americana aceita um emprego de babá no interior da Inglaterra, em uma casa afastada – e, como é de se esperar, naturalmente escura – que aparece nos primeiros minutos de projeção, deixando claro ao público a sequência de clichês que virá.
É sob essa estrutura de chavões de um horror sobrenatural que “Boneco do Mal”, de William Brent Bell, constrói seu terror psicológico, tendo como diferenciais sua estranha premissa, certa criatividade em seu desfecho e Lauren Cohan correndo para escapar de outra coisa que não sejam zumbis.
A atriz, conhecida por sua personagem Maggie Greene da série “The Walking Dead”, dá vida a Greta Evans, protagonista em fuga que encontra refúgio na velha mansão do Sr. e da Sra. Heelshire (Jim Norton e Diana Hardcastle), onde é contratada para cuidar de Brahms, o filho deles.
Porém, ao lá chegar, a moça descobre que o menino é na verdade um boneco de porcelana que os pais, já em idade avançada, tratam como um prolongamento do próprio herdeiro, que foi dado como morto em um incêndio há 20 anos.
Apesar da peculiaridade do serviço, ela o aceita para sair de circulação. Mas, quando fica sozinha com Brahms – no máximo, recebe visitas do entregador da mercearia, Malcolm (Rupert Evans) –, fatos estranhos começam a acontecer. A relação entre a babá e o boneco se torna, ao mesmo tempo, mais próxima e conflituosa.
A necessidade de ficar longe do ex-parceiro violento, Cole (Ben Robson), e superar os traumas causados por ele sustentam, bem fragilmente, a justificativa da personagem de permanecer ali – quem, além dos pais desesperados, em sã consciência se prestaria a este papel?
Contudo, se a trama em si é fraca, o roteiro do estreante Stacey Menear é bem-sucedido ao usar relacionamentos abusivos não só como pano de fundo na vida da protagonista mas como subtexto de todo o filme.
Encarnando sua primeira protagonista no cinema, após participar de várias séries de TV, Lauren Cohan cai no overacting, mas, a bem da verdade, não dispõe de material muito extenso para trabalhar em cima de sua personagem, a não ser esse background traumático.
O diretor Bell, que tem “Filha do Mal” (2012) entre seus quatro filmes anteriores, não apela tanto para os sustos gratuitos quanto outros exemplares do gênero; quando os usa é com a intenção de frustrar a expectativa do espectador, o que faz de maneira inteligente a princípio, para acabar minando seu efeito pela repetição.
Assim, por mais que crie certa tensão na ambientação da história com a ajuda da fotografia de Daniel Pearl, nos grandes close-ups e a trilha sonora de Bear McCreary, a atmosfera de medo não é satisfatória.
Por isso, é surpreendente a virada para o terceiro ato, que, igualmente, leva o longa a outro subgênero e retoma questões sociais que enriquecem a obra. A pergunta ao fim da sessão é se o interessante plot twist compensa o primeiro e o segundo atos arrastados, salvando o filme da mediocridade.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb