SÃO PAULO (Reuters) - Não são poucos os adjetivos a serem creditados ao anti-herói Deadpool, o personagem da Marvel insano, instável, violentíssimo e, ainda assim, cômico.
Embora seja possível encará-lo como uma paródia ao arquétipo de heroi, ele transcende essa condição não apenas por ridicularizar seus pares, mas a si mesmo e, sem dúvida, o próprio leitor dos quadrinhos, de onde ele surgiu com nome e formato na década de 1990.
Por essa condição, havia uma grande expectativa dos fãs para sua adaptação aos cinemas, que mantivesse suas propensões anárquicas e alucinadas. Mais: que fizesse esquecer sua participação em “X-Men - Origens: Wolverine” (2009), considerada catastrófica até pelo ator que o interpretava, Ryan Reynolds, que volta a assumir o personagem no novo longa, “Deadpool”, em que também é produtor.
O resultado é uma comédia insana, liderada pela atuação sem censura de Reynolds, o humor cáustico da dupla de roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick (ambos de “Zumbilândia”) e a direção (esta um tanto quadrada, fato ofuscado pela narrativa não-linear) do estreante Tim Miller. Mas, como qualquer comédia, independentemente de sua qualidade, a graça fica por conta, muitas vezes, de quem vê.
Há, no entanto, uma escolha que apresenta ruído: a origem de Deadpool. Na versão do cinema, Wade é um mercenário engraçadão que, depois de conhecer o amor de sua vida, Vanessa (Morena Baccarin), descobre que está com câncer terminal e a abandona. Sabendo que irá morrer, acaba recrutado por um misterioso agente que pode lhe trazer a cura por meio de tratamento experimental.
O que ele não sabe é que se trata de uma iniciativa para transformar homens em super-soldados (Projeto Arma X, dos quadrinhos) para fins nada pacíficos.
O torturante tratamento para torná-lo um mutante, administrado pelo vilão Ajax (Ed Skrein), dá errado e torna Wade, agora desfigurado, em Deadpool – apelido extraído da lousa de apostas sobre qual mercenário morreria primeiro, um feito do agenciador Weasel (T.J. Miller), amigo de Wade.
Embora a origem real do personagem mude nos quadrinhos, há diferenças gritantes, incluindo a omissão do período em que ele passa por um “hospício”, de onde o nome provém. Mas o Deadpool cinematográfico ridiculariza tão fortemente sua própria história, em referências que levam diretamente até o ator Reynolds, que amplia a nova versão de sua gênese.
O espectador sem pré-conhecimento do universo da Marvel pode estranhar a completa falta de escrúpulos de Deadpool. Vê na projeção todos os adjetivos que o marcam reverberando nas bem coordenadas cenas de ação e nas piadas que faz para audiência sobre tudo e todos (fora e dentro do filme). Mas Deadpool é isso, e ele não se importa se vai agradar ou não.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
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