SÃO PAULO (Reuters) - Cristiana (Elena Popa) acaba de descobrir a liberdade, quando seus pais (Dan e Magdalena Lungu) se mudam, deixando o apartamento inteiro para ela. O que fazer, então, com tanta autonomia? É essa a pergunta que tenta responder o longa da romena Ana Lungu, “Autorretrato de uma Filha Obediente” que acompanha a jornada de autodescoberta de sua protagonista.
Em primeiro lugar, Cristiana está feliz porque, sozinha no imóvel, poderá ser ela mesma. O problema é que ela não sabe ao certo quem ela é. O filme começa com sua arrumação do pequeno apartamento; é como se fosse tomando posse do lugar, um rito de passagem para a sua vida adulta. Mas ocupar não é apenas estar presente entre as quatro paredes. É preciso fazer mais para chamar o espaço efetivamente de seu.
Mas Cristiana é uma jovem sem muito rumo. Acompanhamos seu cotidiano, que inclui conversas com amigos, tentativas de terminar seu doutorado sobre terremotos, um caso com um homem casado (Emilian Oprea) e encontros com os pais, entre outras coisas.
A diretora, que também assina o roteiro, constrói a narrativa em cima de acontecimentos quase banais da vida da protagonista. É a forma que a cineasta encontra para mostrar como as experiências corriqueiras servem para moldar a personalidade.
Com exceção de Oprea, a diretora optou por trabalhar com atores amadores – inclusive seus próprios pais no papel de pais da protagonista, num leve lance de metalinguagem – cujas limitações interpretativas somam, no entanto, como camadas à humanidade de seus personagens.
Cristiana é uma moça com mais dúvidas do que certezas, das mais profundas até as banais. Uma delas: quer comprar um cachorro, mas não decide qual a raça. É exatamente nisso que “Autorretrato de uma Filha Obediente” encontra a sua força: mostrar como pequenos gestos, pequenas escolhas, são tão importantes quanto os grandes.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb OLBRENT Reuters Brazil Online Report Entertainment News 20160323T195121+0000