SÃO PAULO (Reuters) - Rocky Balboa volta às telas, não mais dentro dos ringues, como há 40 anos, mas no coadjuvante papel de treinador do filho de seu maior adversário e, posteriormente, amigo e treinador, Apollo Creed, interpretado por Carl Weathers.
Se a ideia do spin-off "Creed: Nascido para Lutar" parecia interessante, também gerava muito descrédito quanto à possibilidade de resultar num produto requentado ou descaracterizado.
Porém, em uma temporada frutífera ao resgate de velhas franquias –vide a volta dos universos de "Mad Max", "Jurassic Park" e "Star Wars"–, a saga protagonizada por Sylverter Stallone igualmente ganha fôlego na grata surpresa desta mistura de continuação e recomeço, à semelhança de seu antigo protagonista e do atual.
Em seu segundo longa, o jovem diretor Ryan Coogler repete a parceria bem-sucedida com o ator Michael B. Jordan em "Fruitvale Station: A Última Parada" (2013), premiado em Cannes, Sundance e no Spirit Awards, atualizando a história de perseverança e redenção de um azarão no provocativo mundo do boxe para o século 21 e uma nova plateia.
O "vira-lata" em questão é Adonis (Michael B. Jordan), filho bastardo de Apollo Creed, nascido após a morte do antigo campeão dos pesos-pesados na luta, mostrada em "Rocky IV"(1985), contra um implacável oponente soviético.
Um prólogo mostra que, depois de passar parte de sua infância em reformatórios por causa da morte de sua mãe, o garoto é adotado justamente pela abastada viúva do boxeador.
Mary Anne Creed (Phylicia Rashad) não lhe deixou faltar nada, a não ser a realização do inato desejo do rapaz de seguir o caminho trilhado pelo pai que não conhecera, por medo de ele ter o mesmo trágico destino.
Porém, Adonis "Hollywood" Johnson deixa um ótimo emprego num escritório e sua boa vida em Los Angeles para ir à Filadélfia – cidade novamente retratada com carinho e novos detalhes –e perseguir seu sonho de se tornar um lutador, o que inclui insistir e muito para que Rocky, velho amigo de Apollo e agora apenas dono de um restaurante italiano, o treine.
É visível no roteiro desenvolvido por Coogler e pelo estreante Aaron Covington a estrutura da história original, fazendo homenagens com citações e elementos de todos os capítulos da franquia. Além da famosa escadaria do Museu de Arte da Filadélfia, com seus 72 degraus presentes desde o primeiro filme, há as galinhas do segundo, a estátua "inaugurada" no terceiro, a morte do quarto como gatilho da recente trama, Balboa como treinador de um pupilo no malfadado quinto e o ristoranti Adrian's do sexto, por exemplo.
Contudo, a reverência que agrada aos fãs está sempre a serviço da narrativa inédita e compreensível para iniciantes, a exemplo dos inesquecíveis acordes de Bill Conti, reconhecíveis até para quem não assistiu a nenhum dos longas da série, que só pontuam em momentos-chave as novas composições do sueco Ludwig Göransson, que aposta em uma trilha sonora repleta de hip hop e eletro R&B, mais condizente com os novos personagens.
Da mesma maneira, os roteiristas criam um protagonista mais complexo dentro da semelhante trajetória, em que os conflitos internos de uma origem bastarda, o início tardio, a ausência e a sombra do pai são intensificados no paradoxo de uma infância humilde e turbulenta com uma criação posterior cercada de riqueza e estabilidade. Tudo isso, um prato cheio para Jordan estabelecer mais uma vez seu nome com uma interpretação digna de nota.
Ao seu lado, Tessa Thompson, de "Selma: Uma Luta Pela Igualdade", chama a atenção como Bianca, sua vizinha e interesse romântico. A idade ganha peso não só sobre o corpo e sim no emocional do sexagenário Balboa, ao ver seus entes queridos irem embora.
Tendo à frente um "plot twist" melodramático que poderia ser uma bomba, Stallone contorna o problema ao imprimir enorme sinceridade em Rocky, um tom abaixo do exagero que marcou o famoso personagem que amadureceu com o tempo aos olhos do público.
O bom trabalho do diretor não apenas aumentou seus créditos para o próximo trabalho, a nova produção da Marvel "Pantera Negra" (2018), como também garantiu uma continuação em 2017 para este filme. Se o passado de "Rocky" está aqui, literalmente como uma projeção na parede, "Creed" tem força própria para se sobrepor a uma simples reprodução.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
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