SÃO PAULO (Reuters) - Veja um resumo dos principais filmes que estreiam nos cinemas do país nesta quinta-feira:
"O REI DO SHOW"
- Indicado a três Globos de Ouro – melhor filme (comédia/musical), melhor ator de comédia/musical (Hugh Jackman) e melhor canção original (“This is me”), o musical dirigido por Michael Gracey é um programa na justa medida para as festas de final de ano. O roteiro, assinado por Jenny Bicks e Bil Condon (diretor do mais recente “A Bela e a Fera”, também um musical), retrata a ascensão de um homem nascido pobre, P.T. Barnum (Hugh Jackman), que encontra seu talento natural como empresário de entretenimento, no final do século XIX.
Sua grande ideia está na invenção de um circo de curiosidades, em que as atrações são pessoas tidas como “exóticas”, com números protagonizados por, entre outros, um anão, o Pequeno Polegar (Sam Humphrey), uma mulher barbada, Lettie (Keala Settle), esta uma excepcional cantora. A ideia arriscada torna-se um sucesso, permitindo a Barnum cumprir a promessa de dar uma vida confortável à sua amada, Charity (Michelle Williams), que abandonou uma família rica para viver com ele.
Os números musicais são de primeira classe, permitindo não só narrar a história de um personagem ambíguo como Barnum – cuja sede de aceitação no círculo mais rico pode pôr a perder sua felicidade familiar – como genuinamente entreter em momentos que detalham a saga de outros personagens. Um dos mais bonitos envolve a acrobata Anne (Zendaya) e o novo sócio de Barnum, Philip Carlyle (Zac Efron), ao som da canção “Rewrite the Stars”.
Momentos como as conversas do empresário Barnum com um crítico de teatro enfezado permitem ao filme igualmente discutir um pouco de ética do espetáculo ao mesmo tempo que injetar uma discussão sobre a necessidade de tolerância em relação às diferenças. Em tempo: o filme circula em pré-estreias pagas desde esta quinta (21) e entra em cartaz oficialmente na segunda de Natal (25).
"SUBURBICON - BEM-VINDOS AO PARAÍSO"
- Culto e politizado, o ator e diretor George Clooney certamente visou a América de Donald Trump quando se interessou em reciclar um roteiro há tempos abandonado pelos irmãos Ethan e Joel Coen, autores originais de “Suburbicon – Bem-vindos ao Paraíso”. Unindo-se a seu habitual parceiro, Grant Heslov, o diretor voltou-se para um passado que fala do presente, situando sua história numa comunidade suburbana de classe média alta no ano de 1959.
Suburbicon foi idealizada para ser uma verdadeira sociedade à parte, com casas e pessoas todas idênticas. Essa uniformidade é abalada quando se muda para o local a primeira família afro-americana, os Mayers.
Confrontados pela diversidade racial que impera fora de seus limites, os moradores deixam cair a máscara dos bons modos, tornando-se, aos poucos, uma verdadeira horda contra os novos moradores. A exceção é a família Lodge, vizinha dos Mayers, cujo patriarca, Gardner (Matt Damon), no entanto, esconde uma relação problemática com a mulher, Rose (Julianne Moore), que adquire tom sinistro depois que sua casa sofre a invasão de dois aparentes ladrões.
"ASSIM É A VIDA"
- Dupla responsável pelo roteiro e direção de comédias inspiradas como “Intocáveis” (2011), os franceses Éric Loredano e Olivier Nakache unem novamente suas forças para escrever e conduzir “Assim é a Vida”, comédia em torno da organização de um bufê de casamento.
Max (Jean-Pierre Bacri) é o dono de uma empresa que organiza festas. Na maior parte do tempo, ele administra conflitos e problemas, decorrentes não só das falhas de seus fornecedores como de seus empregados. Além disso, há tempos, não resolve uma longa crise em seu casamento, mantendo, enquanto isso, um relacionamento com uma de suas empregadas, Josiane (a atriz canadense Suzanne Clément) – que também está farta.
Desta vez, a festa é num castelo do século XVII. O casamento é de Pierre (Benjamin Lavernhe) e Helena (Judith Chemla) e o noivo é o rei dos chatos. Logo na chegada, Max encontra sua auxiliar, Adèle (Eye Haidara), em guerra contra o cantor da cerimônia, James (Gilles Lellouche). Falta um garçom e o substituto, Samy (Alban Ivanov), não tem nenhuma experiência.
Outro garçom, Julien (Vincent Macaigne), acaba de descobrir que a noiva é uma ex- que desencadeou sua antiga crise de depressão. O fotógrafo Guy (Jean-Paul Rouve) é duro de controlar, ainda mais diante de uma bandeja de guloseimas.
É especialmente quando colocam em marcha uma soma de observações sobre a realidade contemporânea que os diretores conseguem firmar o passo, inseguro na primeira metade do filme, humanizando, de passagem, todos os envolvidos.
"JOVEM MULHER"
- Longa de estreia da diretora Léonor Serraille, vencedor do prêmio Caméra d’Or no Festival de Cannes 2017, “Jovem Mulher” é um show quase exclusivo da protagonista, Paula (Laetitia Dosch).
Mulher de 31 anos, ela acaba de viver dez com o fotógrafo Joachim Deloche (Grégoire Monasaingeon), homem famoso, mais velho e que definiu a vida de Paula. Mas agora ele decidiu que ela, que acaba de voltar de um longo tempo longe de Paris, deve seguir seu próprio rumo.
A história começa com este choque da protagonista diante do abandono, ao qual ela reage com fúria inclusive física, detonando a porta do apartamento de Joachim e acabando no hospital. Na verdade, ela nada mais tem de seu do que essa energia desordenada – além da gata do ex, que ela levou consigo.
Sustentando a câmera que quase nunca a abandona, Laetitia Dosch injeta dignidade nesta jovem mulher com quem nem sempre é fácil simpatizar, empurrada sem preparo para um salto na vida adulta.
"CORPO E ALMA"
- Selecionado na pré-lista dos nove finalistas no Oscar de Filme estrangeiro e ganhador do Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano, o drama húngaro parte de uma premissa metafísica: dois colegas de trabalho têm o mesmo sonho – envolvendo neve e dois cervos – todas as noites.
Mária (Alexandra Borbély) e Endre (Géza Morcsányi) descobrem isso por acaso, mas essa peculiaridade os unirá e transformará suas vidas. Ela é retraída, metódica e sem amigos; e ele tem um braço paralisado, o que lhe causa alguns problemas.
Escrito e dirigido por Ildikó Enyedi, o longa investiga o diálogo entre o metafísico e o material, entre a crueldade e o sublime que pode salvar a existência de uma pessoa. Nem sempre a transição entre os polos e os diversos gêneros que o filme visita é bem resolvida, mas a diretora extrai beleza das inspiradas interpretações, capazes de humanizar personagens que poderiam ser uma mera coleção de esquisitices.
(Por Neusa Barbosa e Alysson Oliveira, do Cineweb)
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