SÃO PAULO (Reuters) - A sensibilidade mediterrânea do italiano Gabrielle Muccino rendeu bons filmes em seu país – como “O Último Beijo” (2001), que foi vítima do péssimo remake americano “Um beijo a mais” (2006) –, mas ainda não se encontrou nos EUA, seja com o meloso “À Procura da Felicidade”, ou o equivocado “Pais e Filhas”, protagonizado por Russell Crowe e Amanda Seyfried.
Crowe interpreta Jake Davis, um romancista ganhador do Pulitzer, cuja mulher morreu num acidente de carro enquanto discutiam por ela achar que estava sendo traída. Sozinho, ele tem de criar a filha pequena, Katie (Kylie Rogers), a quem trata carinhosamente como Batatinha. Anos mais tarde, já crescida, Katie é uma pós-graduanda em psicologia –interpretada por Seyfried– levemente ninfomaníca.
O roteiro do estreante Brad Desch entrecorta passado e presente –Jake criando a filha e Katie adulta tentando superar os seus fantasmas–, sem nunca soar convincente em nenhuma das duas pontas. Jake começa a sofrer de estresse pós-traumático que lhe causa convulsões. Seu médico sugere uma temporada de recuperação numa clínica, o que lhe obriga a deixar a menina com a cunhada (Diane Kruger), que o culpa pela morte da irmã, e o marido dela (Bruce Greenwood), um advogado calculista.
No presente, Katie vai para cama –ou banheiro público, o que estiver mais perto– com qualquer homem que cruzar o seu caminho. Até que encontra Cameron (interpretado pelo soporífero Aaron Paul), fã do pai da moça, e que já leu a obra-prima dele, “Pais e Filhas”, diversas vezes e, (Surpresa!) sonha ser escritor. A garota esconde, é claro, seu passado mundano e tenta viver um romance convencional.
Na outra ponta da narrativa, quando Jake, finalmente, sai da clínica, seu casal de cunhados insiste em ficar com a menina -chegando a entrar na justiça pela guarda, alegando que ele não tem condições mentais e financeiras de criar a filha.
Em seu trabalho, Katie começa a tratar uma garota (Quvenzhané Wallis) com traumas tão profundos que, há cerca de um ano, não diz uma palavra, apesar de não sofrer nenhum problema físico. Será por meio da garota que a protagonista irá exorcizar seus fantasmas do passado.
Exagerando na dose de sacarina e nos psicologismos baratos, “Pais e Filhas” não acerta em nenhuma das áreas a que se propõe investigar, seja nas relações familiares ou nos problemas mentais e emocionais de seus personagens. Já Crowe parece fazer uma versão preguiçosa do papel do matemático que lhe rendeu um Oscar em “Uma Mente Brilhante”.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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