SÃO PAULO (Reuters) - Se houve um anti-herói no cenário cultural brasileiro, esse foi Carlos Imperial (1935-1992). Produtor, empresário, cineasta, ator e compositor, ele é creditado como descobridor de cantores como Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia, Elis Regina, Wilson Simonal, Tony Tornado e Jerry Adriani, entre outros.
Mas igualmente lhe atribuem o roubo da autoria de músicas – apossando-se, por exemplo, de “Meu limão, meu limoeiro”, que era de domínio público -, ou impondo sua co-autoria a canções de artistas que empresariava. Não só o machismo, a cafajestagem como a calúnia fizeram parte de um arsenal que ele não se acanhava em usar.
O documentário “Eu Sou Carlos Imperial”, de Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”) procura dar conta dos aspectos contraditórios deste personagem. Conta, para isso, com depoimentos bastante francos de diversos artistas a quem Imperial se associou, além de alguns de seus filhos (ele teve nada menos de onze, de sete mulheres diferentes).
Em tempos em que o politicamente correto ainda não imperava, mas era comum alguma contenção, Imperial orgulhava-se de não ser bom moço: “O mocinho é um chato!”, proclamava ele, segundo o relato de amigos, como o ator Paulo Silvino.
Marqueteiro atrevido, não temia inventar mentiras mirabolantes – como a de que os Beatles tinham gravado “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, lenda que se propagou internacionalmente, em tempos pré-internet. Anos depois, garantiu que seu filme “Mulheres... Mulheres” (81) adaptava um conto do escritor e cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, o que nunca passou perto da verdade.
Os atrevimentos eventualmente passavam da conta, como quando mandou para militares, em plena ditadura, um cartão de natal ilustrado por uma foto dele, sentado numa privada. A ousadia custou-lhe uma curta temporada no presídio de Ilha Grande e outra lenda – a de que teria sido espancado e até levado tiros, o que nunca aconteceu.
Muito pior foi a campanha que moveu contra o ator Mário Gomes, espalhando para jornais populares uma tenebrosa história envolvendo sua falsa internação por um acidente com uma cenoura.
Inegável era seu faro para descobrir artistas e divulgá-los, embora, como reconheçam alguns entrevistados, como Erasmo Carlos e Jerry Adriani, fatalmente se tornasse necessário fugir ao seu controle para ter vida própria.
No final da vida, envolveu-se com política, sem o mesmo sucesso, primeiro pelo PDT (pelo qual elegeu-se vereador), depois criando o PTN. Mas essa não era mesmo sua praia. E seu tempo tinha passado.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb OLBRENT Reuters Brazil Online Report Entertainment News 20160316T195418+0000