SÃO PAULO (Reuters) - Aos 70 anos, mais de 140 filmes nas costas, a atriz Geraldine Chaplin despoja-se de tudo isso e de qualquer vaidade para aparecer na tela, vulnerável física e psicologicamente, no drama latino "Dólares de Areia", dos diretores Israel Cárdenas e Laura Amelia Guzmán. É o quarto longa da dupla, ele mexicano, ela dominicana.
Geraldine, que esteve em São Paulo na première nacional do filme, no encerramento da 38ª Mostra Internacional de Cinema, em 2014, é o epicentro dramático de uma história que aborda o turismo sexual mas não abre mão de ir mais fundo, adotando um ponto de vista sensível e humanista. Ou seja, procurando entender as razões sociais e psicológicas da questão.
No balneário dominicano de Las Terrenas, a francesa Anne (Geraldine) é uma figura habitual no hotel que recebe turistas europeus, como ela, na terceira idade e em busca de companhia e sexo. Há 3 anos, Anne envolveu-se com a jovem Noeli (a estreante Yanet Mojica) e, pelo menos para a mulher mais velha, a relação há muito tempo passou do sexo casual.
Adaptando com muita liberdade o romance homônimo do autor francês Jean-Noël Pancrazi, os diretores inserem habilmente o aspecto do sonho, da expectativa segundo cada uma das duas mulheres. Se a madura Anne, cujo corpo não esconde os sinais do envelhecimento, se desdobra em atenções para Noeli em busca de afeto e para salvar-se da solidão, para Noeli este relacionamento é outra coisa.
Muitas décadas mais jovem do que sua parceira e muito pobre, num país com poucas possibilidades de emprego, Noeli vê na proteção da estrangeira uma rota de fuga. Seu sonho é morar em Paris e, a partir de lá, com a ajuda de Anne, levar também seu namorado, Yeremi (Ricardo Ariel Toribio), que ela apresenta como seu irmão.
Um trunfo do filme é humanizar as personagens, atenuando a possibilidade de um tom de sordidez dominar o relato. Adota-se uma postura realista diante das intenções sem dúvida aproveitadoras de Noeli, mas sem deixar de observar de onde parte a mentalidade que ela criou.
Mas a grande joia do filme é mesmo Geraldine Chaplin. Sua Anne é nunca menos do que comovente, mesmo que também fique claro um viés manipulador, colonialista, até, em algumas de suas atitudes. Mas é o amor, um amor desesperado que guia seus atos, o que, com a capacidade de expressão da atriz, é garantia de emoção, para quem não se arvore excessivamente em juiz ou cruzado moralista.
A atuação de Geraldine valeu-lhe o prêmio de interpretação feminina no Festival Internacional de Chicago. Outro grande trunfo está na trilha sonora, pontuada pelo balanço caribenho do veterano Ramón Cordero.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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