SÃO PAULO (Reuters) - Concorrente da competição principal do Festival de Brasília 2015, o drama “Prova de Coragem”, de Roberto Gervitz, partiu do romance “Mãos de Cavalo”, de Daniel Galera, transformando bastante a história para tornar-se uma discussão sobre a crise pessoal de um homem maduro, o médico Hermano (Armando Babaioff).
Extremamente bem-produzido do ponto de vista técnico (direção de arte, fotografia, som, montagem), o filme não mantém o mesmo equilíbrio na composição dos dilemas centrais do protagonista, especialmente no que se desenha como uma grande culpa do passado, envolvendo omissões na morte de um amigo.
Nesses flashbacks de sua vida adolescente, no entanto, o filme tem uma energia diferente e flui melhor. Na vida adulta de Hermano é que a tensão dramática não se afirma com tanta força, inclusive em sua crise amorosa com a companheira que decide engravidar de forma um tanto intempestiva, a artista plástica Adri (Mariana Ximenes).
Esta que é a principal personagem feminina, aliás, é bastante problemática, mostrando-se uma figura agressiva, negativa de um modo quase maniqueísta e, o que é pior, interpretada sempre acima do tom. Isto abala um bocado a necessária “química de casal”, que não se manifesta a contento, nem mesmo antes dos momentos de ruptura.
Os conflitos básicos da história não se desenham da melhor forma, dificultando o envolvimento emocional de quem assiste. Também fica difícil compartilhar o dilema de Hermano, que decide deixar para trás a ex-companheira grávida, mesmo diante de uma gravidez de risco, para participar de uma viagem de escalada com um amigo que o coloca diante de diversos outros riscos.
Afinal, Hermano é inexperiente em alpinismo e sente vertigens nos treinamentos. A contradição, que é sempre um fator atraente na ficção – e na vida - poderia ser mais convincente e isso é o que o filme não consegue.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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