👀 Não perca! As ações MAIS baratas para investir agoraVeja as ações baratas

ESTREIA–“Peter Pan” recria o passado do personagem recorrendo a pirotecnia visual

Publicado 07.10.2015, 16:39
Atualizado 07.10.2015, 16:49
© Reuters. Ator Levi Miller, de "Peter Pan", durante lançamento em Londres

SÃO PAULO (Reuters) - Se depois da sessão de "Peter Pan" (2015), longa de Joe Wright que se debruça sobre as origens do menino que não queria crescer, criado pelo dramaturgo e escritor britânico J. M. Barrie em 1902, as pessoas começarem a se questionar se a produção é realmente para crianças ou muito adulta, tenha uma certeza: por mais que se trate de uma superprodução planejada comercialmente para atingir toda a família, o filme é essencialmente infantil, sem que isso acarrete nenhum aspecto pejorativo.

Em sua superfície, não é tão sombrio quanto outras recentes "prequels" ou versões "live-action" de contos de fadas. O caráter lúdico dos efeitos especiais no amplo uso de CG vai ao encontro da narrativa vista a partir do olhar de uma criança; agora Peter, em vez da menina Wendy, como se está habituado pelo texto de Barrie.

Além disso, no entanto, há uma série de questões espinhosas colocadas em maior ou menor grau na trama que, à primeira vista, seriam chamadas de adultas, mas que, na verdade, são problemáticas também comuns aos primeiros anos de vida. Abusos, tráfico de crianças, ditadura, sustentabilidade, genocídio e exploração infantil são conteúdos implícitos na obra, mostrando como a infância pode ser dolorosa para algumas pessoas.

Com a proposta de levar o público a entender como Peter Pan (primeiro grande papel do australiano Levi Miller, de 13 anos) e Capitão Gancho (Garrett Hedlund) se tornaram inimigos eternos, criando um passado em que eles eram verdadeiramente amigos, o roteiro de Jason Fuchs – "A Era do Gelo 4" (2012) – realoca a história três décadas depois da criação do personagem. Ainda bebê, o garoto é deixado na porta de um orfanato em Londres por sua aflita mãe (Amanda Seyfried) e, mesmo com o passar dos anos, vivendo em plena Segunda Guerra Mundial em um abrigo onde é constantemente maltratado, ele espera reencontrá-la.

Contudo, a vida dele muda quando percebe que outros meninos do orfanato estão sumindo durante a noite. Isso porque a madre e diretora do local, a Mãe Barnabas (Kathy Burke), está vendendo as crianças para piratas, como ocorre com ele em uma madrugada, quando um navio voador sobrevoa o lugar e bucaneiros o raptam. Eles o levam para a Terra do Nunca, que está dominada por um déspota: o famoso e temido Barba Negra (Hugh Jackman), que transforma o local em uma espécie de grande Serra Pelada ao explorar diversos órfãos que trabalham no garimpo de Pixum, o conhecido pó de fada em forma mineral que o ditador busca para rejuvenescer.

Na mina, Peter conhece James Gancho (Hook, no original), um tipo aventureiro malandro que acaba se tornando, meio a contragosto, seu companheiro em sua jornada na Terra do Nunca, em que também se depara com os nativos, uma mistura das culturas indígenas, aborígenes e indiana, liderados pela caucasiana Princesa Tigrinha (Rooney Mara).

Releitura multiétnica da tribo Pickaninny, sua líder, ao menos, ganha o destaque que não tem no original ou em adaptações passadas. Do livro, também constam os famosos crocodilos e as sereias (todas com o rosto da modelo e atriz Cara Delevingne), mas em aparição breve.

Após um início dickensiano, o longa traz a mitologia grega de Pan, deus da floresta, nas lendas e costumes nativos da Terra do Nunca e no pingente do garoto, com ecos messiânicos. Além das referências no orfanato cristão, uma representação do julgamento popular comandado por Pilatos na figura do Barba Negra e a própria origem mista do garoto metade humano, há o mito do Escolhido imbuído através da profecia local.

A ideia da predestinação aparece aqui mais como muleta do roteiro, que achou no artifício o caminho mais fácil para o interesse e adesão de Peter na revolução e o apoio alheio, mas, de qualquer modo, se torna benéfica quando o próprio menino rejeita este título, reforçando a mensagem de autoconfiança que o filme passa às crianças.

Com uma filmografia calcada em adaptações literárias, é possível notar duas direções muito claras na carreira de Wright: o quanto a fidelidade ao texto original foi dando lugar às suas aspirações criativas e, igualmente, seu virtuosismo técnico foi ganhando mais espaço nas obras – os planos-sequências dos bailes de "Orgulho e Preconceito" (2005) foram a semente do magnífico take único de quase cinco minutos de "Desejo e Reparação" (2007), na praia de Dunquerque durante a Segunda Guerra, e frutificaram na encenação teatral de "Anna Karenina" (2012).

Tratando-se, então, de uma prequel, "Peter Pan" dá vazão à expressão do cineasta inglês, que mostra uma mão irregular aqui.

Ele acerta, por exemplo, na criação das animações da árvore da memória e das águas para servir de ferramenta aos flashbacks, assim como no uso de clássicos do rock nos momentos de "pão e circo" do Barba Negra, com "Smells Like Teen Spirit" do Nirvana e "Blitzkrieg Bop" do Ramones cantados pela multidão de jovens, que dão ao garimpo da Terra do Nunca um ar misto de musical e do clima apocalíptico de "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015). Uma escolha ousada, mas justificada, dentro da lógica daquele universo, quando o pirata diz que estão ali órfãos de todos os lugares do mundo, de todas as épocas.

Em contrapartida, a trama corre apressada mais próximo do final, assim como a ação da história se torna exagerada e há certa overdose aos sentidos, apesar da qualidade dos efeitos especiais. Wright aumenta a frequência de planos entrecortados no decorrer das cenas de luta, resultando em uma cacofonia que dificulta a percepção de alguns movimentos e identificação dos personagens, e prejudica até na profundidade do 3D, que é bem mais eficiente na ambientação pela dimensão durante o resto da produção.

Mesmo assim, a equipe consegue fazer um filme em nada tedioso, mesmo que não seja tão marcante. O novato Miller carrega bem a história, ainda que sem toda a altivez e rebeldia esperadas de Pan, enquanto Mara empresta certo encanto à sua princesa guerreira, mas falta-lhe material para aprofundar a personagem. Barba Negra e Gancho são cartunescos, mas o tom acima cabe mais ao vilão de Jackman do que ao aventureiro de Hedlund, que pende mais para um Indiana Jones caricato.

© Reuters. Ator Levi Miller, de "Peter Pan", durante lançamento em Londres

Contudo, a verdadeira vilã da trama é a Mãe Barnabás e a leitura de que a Terra do Nunca não passa de uma abstração de Peter confere à obra uma riqueza maior. Ao garoto órfão, disléxico, vítima de maus-tratos e humilhações, a fuga da realidade se mostra a única maneira de autodescoberta e aceitação.

(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2024 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.