Por Steve Holland e Andrew Osborn e Tom Perry
PALM BEACH, EUA/MOSCOU/BEIRUTE (Reuters) - Os Estados Unidos dispararam mísseis de cruzeiro nesta sexta-feira contra uma base aérea síria de onde autoridades norte-americanas afirmam que foi lançado um ataque com armas químicas nesta semana, na primeira intervenção militar direta dos EUA contra o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, em seis anos de guerra civil.
Em sua mais importante decisão de política externa, o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou que as Forças Armadas dessem o passo que seu antecessor Barack Obama nunca deu: atacar diretamente as forças de Assad com bombardeios aéreos em resposta ao ataque de armas químicas que matou ao menos 70 pessoas, muitas delas crianças.
O ataque levou os Estados Unidos a confrontarem diretamente a Rússia, que tem forças militares no terreno ajudando seu aliado próximo Assad.
“Anos de tentativas anteriores de mudarem o comportamento de Assad fracassaram e fracassaram drasticamente”, disse Trump ao anunciar o ataque em sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida, onde recebia o presidente da China, Xi Jinping.
“Até bebês foram cruelmente assassinados por esse ataque selvagem”, acrescentou Trump sobre o ataque de armas químicas de terça-feira, que países ocidentais acreditam ter sido causado pelo Exército de Assad. “Nenhum filho de Deus deveria passar por tanto horror”.
O Exército sírio disse que o ataque dos Estados Unidos matou seis pessoas em sua base aérea perto da cidade de Homs. Os militares chamaram o ataque de “agressão descarada” e disseram que a ação tornou os Estados Unidos um “aliado” de “grupos terroristas”, incluindo o Estado Islâmico.
O governador de Homs, Talal Barazi, disse à Reuters que o número de mortes é de 7 pessoas.
Um porta-voz do presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que o ataque afetou seriamente os laços entre Washington e Moscou. Putin, um aliado constante de Assad, considerou a ação norte-americana como uma “agressão contra uma nação soberana” com um “pretexto inventado”, disse o porta-voz Dmitry Peskov.
A televisão russa mostrou crateras e ruínas no local da base aérea e disse que nove aeronaves foram destruídas.
ATAQUE PONTUAL
Autoridades dos Estados Unidos afirmaram ter feito um grande esforço para que tropas da Rússia não fossem mortas, alertando as forças russas com antecedência e evitando atingir partes da base onde russos estariam presentes.
Aliados ocidentais dos EUA manifestaram apoio à decisão de lançar os ataques. Vários países disseram ter sido notificados antes da ação, mas nenhum foi convidado a participar. O Irã, outro grande aliado do presidente sírio, Bashar al-Assad, criticou a intervenção militar.
Autoridades dos EUA descreveram o ataque como uma intervenção pontual que não irá levar a uma escalada, e autoridades sírias e seus aliados também disseram não acreditar que o ataque leve a uma ampliação do conflito.
"Sem dúvida isso irá deixar uma grande tensão no nível político, mas não espero uma escalada militar. Atualmente não acredito que estamos rumando para uma grande guerra na região", afirmou à Reuters uma autoridade de alto escalão da aliança que combate a favor de Assad, que não é síria e não quis se identificar.
Há anos Washington apoia grupos rebeldes que lutam contra Assad em uma guerra civil complexa e multifacetada que já matou mais de 400 mil pessoas desde 2011. O conflito expulsou mais da metade da população de suas casas, criando a maior crise de refugiados do mundo.
Os EUA vêm realizando ataques aéreos contra militantes do Estado Islâmico que controlam territórios no leste e no norte da Síria, e alguns poucos soldados norte-americanos estão no país auxiliando milícias anti-Estado Islâmico. No entanto, até agora Washington vinha evitando um confronto direto com Assad.
A Rússia, por sua vez, entrou na guerra a favor de Assad em 2015, uma medida que fez a balança pender para o lado de Damasco.
A decisão de Trump de alvejar forças governamentais sírias é uma mudança particularmente notável para um líder que anteriormente disse e repetiu que desejava uma relação melhor com Moscou, inclusive para cooperar com a Rússia no combate ao Estado Islâmico.
Mas Trump também criticou Obama por estabelecer um limite e ameaçar usar a força contra Assad se ele usasse armas químicas mas não chegar a ordenar ataques aéreos em 2013, quando Assad concordou em entregar seu arsenal químico.
(Reportagem adicional de Phil Stewart, Idrees Ali, Yara Bayoumy, Jonathan Landay, John Walcott, Lesley Wroughton, Patricia Zengerle, Roberta Rampton, David Brunnstrom e Matt Spetalnick, em Washington; Megan Davies, em Nova York, e Jack Stubbs em Moscou)