Por Ayesha Rascoe e Richard Cowan
WASHINGTON (Reuters) - A pressão cresceu sobre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta quarta-feira, quando o Departamento de Justiça dos EUA nomeou o ex-diretor do FBI Robert Mueller como conselheiro especial para investigar possíveis conluios entre a equipe de campanha de Trump em 2016 e a Rússia.
A medida ocorre num momento em que há demandas crescentes por uma investigação independente a respeito de supostos esforços russos para influenciar o resultado da eleição presidencial de novembro em favor de Trump e contra a democrata Hillary Clinton.
"Minha decisão (de nomear um conselheiro especial) não é a constatação de que crimes foram cometidos ou que qualquer processo judicial é justificado", disse o vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein, em um comunicado.
"Eu determinei que um conselheiro especial é necessário para que o povo americano tenha plena confiança no resultado."
Também nesta quarta-feira, parlamentares buscaram intensificar investigações sobre a demissão do chefe do FBI, além do possível envolvimento entre a campanha de Trump e a Rússia, e mais colegas republicanos do presidente pediram por uma investigação independente.
A controvérsia assustou investidores em Wall Street, mas Trump deu uma mensagem de “não desista, não recue” durante um discurso em Connecticut, onde se queixou de estar sendo tratado da forma mais injusta do que qualquer outro político já foi.
A S&P 500 e o Dow tiveram suas maiores quedas em um dia desde setembro, à medida que as esperanças de investidores por cortes de impostos e outras políticas pró-negócios foram ofuscadas em meio ao noticiário político.
A turbulência em Washington se aprofundou por alegações de que o presidente buscou o fim de uma investigação do FBI sobre ligações entre o primeiro conselheiro de segurança nacional de Trump, Michael Flynn, e a Rússia. Isto levantou questões sobre se o presidente tentou de forma indevida interferir em uma investigação federal.
O presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, insistiu que republicanos, que controlam ambas as Casas do Congresso, não estavam vendo a agenda legislativa do partido na lama.
Comitês do Congresso pediram depoimento público de James Comey, cuja demissão como diretor do FBI na semana passada gerou uma tempestade política, assim como documentos da agência.
Comey escreveu um memorando detalhando sobre como Trump comentou a ele em fevereiro que “espero que você deixe isto pra lá”, se referindo à investigação sobre Flynn, disse na terça-feira uma fonte que viu o memorando escrito por Comey.
O porta-voz de Trump, Sean Spicer, reiterou a postura da Casa Branca de que os relatos “não são uma descrição exata de como o evento ocorreu”.
Comey escreveu outros memorandos sobre suas interações com Trump, cujos conteúdos ainda não foram divulgados, disse um associado de Comey à Reuters.
“Acho que precisamos ouvir dele o mais rápido possível em público para responder às questões que foram levantadas nos dias recentes”, disse o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, ao Wall Street Journal, enquanto os comitês de inteligência e judiciário do Senado e um painel de supervisão da Câmara pediram para Comey testemunhar.
“Acho que é indispensável que ele se apresente perante nosso comitê sobre qualquer possível acusação de obstrução de justiça”, disse o republicano Lindsey Graham, membro sênior do Comitê Judiciário do Senado.
Trump demitiu Comey em meio a uma investigação do FBI sobre possível interferência russa na eleição presidencial norte-americana de 2016 e possíveis laços entre a campanha de Trump e a Rússia. Em uma investigação distinta, porém relacionada, o FBI está investigando laços de Flynn com a Rússia.
Moscou negou a conclusão de agências de inteligência dos EUA de que teria se envolvido na campanha para tentar favorecer Trump na eleição.
Trump afirmou em um discurso a graduados da Academia da Guarda Costeira dos EUA em Connecticut que não foi eleito “para servir à mídia de Washington ou interesses especiais”.
“Olhem a maneira que tenho sido tratado ultimamente, especialmente pela mídia. Nenhum político na história, e digo isto com grande certeza, foi tratado pior ou mais injustamente”, disse Trump.
Diante da injustiça, “você tem que abaixar sua cabeça e lutar, lutar, lutar. Nunca, nunca, desistir. As coisas ficarão bem”, acrescentou.