HAMBURGO (Reuters) - Líderes das principais economias do mundo romperam com o presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a política climática na cúpula do G20 no sábado, em uma rara admissão pública de desacordo e um golpe para cooperação mundial.
A chanceler alemã Angela Merkel, ansiosa por mostrar suas habilidades como mediadora dois meses antes da eleição alemã, conquistou seu objetivo primário na reunião em Hamburgo, convencendo os demais líderes a apoiar um comunicado único com promessas sobre comércio, finanças, energia e África.
No entanto, a divisão entre Trump, eleito sob a promessa de colocar os Estados Unidos em primeiro lugar, e os demais 19 membros do grupo, incluindo países tão diversos como Japão, Arábia Saudita e Argentina, foi dura.
No mês passado, Trump anunciou a retirada dos Estados Unidos de um acordo climático internacional importante acertado dois anos antes em Paris.
"No final, as negociações sobre o clima refletem a dissidência - todos contra os Estados Unidos da América", disse Merkel a repórteres ao final da reunião.
"E o fato de que as negociações sobre comércio foram extraordinariamente difíceis é devido a posições específicas tomadas pelos Estados Unidos".
A cúpula, marcada por protestos violentes que deixaram as ruas de Hamburgo cheias de carros queimados e vitrines quebradas, reuniu uma mistura de líderes em um momento de grandes mudanças na paisagem geopolítica global.
A mudança de Trump para uma diplomacia transnacional mais unilateral deixou um vazio na liderança global, perturbando os aliados tradicionais na Europa e abrindo a porta para o aumento de poderes como a China para assumir um papel maior.
As tensões entre Washington e Pequim dominaram o início da reunião, com a administração do Trump pressionando o presidente Xi Jinping para controlar a Coreia do Norte e ameaçando medidas comerciais punitivas sobre o aço.
No comunicado final, os outros 19 líderes tomaram nota da decisão dos EUA de retirar-se do acordo climático de Paris, declarando-a "irreversível".
De sua parte, os EUA injetaram uma linha contenciosa dizendo que o país "se esforçaria para trabalhar em estreita colaboração com outros países para ajudá-los a acessar e usar combustíveis fósseis de forma mais limpa e eficiente".
Sobre o comércio, outro ponto delicado, os líderes concordaram que iriam "combater o protecionismo, incluindo todas as práticas injustas e reconhecer o papel de instrumentos legítimos de defesa sobre esse tema".
Os líderes também prometerem trabalhar juntos para fortalecer o desenvolvimento econômico na África, um projeto prioritário para Merkel.
A chanceler alemã escolheu receber a cúpula na cidade portuária de Hamburgo, onde nasceu, para enviar um sinal sobre a abertura da Alemanha para o mundo, incluindo sua tolerância a protestos pacíficos.
A cúpula foi realizada apenas algumas centenas de metros de um dos símbolos mais poderosos de resistência de esquerda da Alemanha, um antigo teatro chamado "Rote Flora", que foi ocupado por invasores anticapitalistas há quase três décadas.
Durante os três dias da cúpula, manifestantes radicais saquearam lojas e incendiaram carros e caminhões. Mais de 200 policiais ficaram feridos, enquanto 143 pessoas foram presas e 122 levadas sob custódia.
(Paul Carrel e Noah Barkin)