NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - Os Estados Unidos vetaram nesta quarta-feira uma resolução apresentada pelo Brasil ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que solicitava pausas humanitárias no conflito entre Israel e o grupo militante palestino Hamas para permitir o acesso de ajuda humanitária à Faixa de Gaza.
A votação do texto foi adiada duas vezes nos últimos dias, enquanto os EUA tentavam intermediar o acesso da ajuda a Gaza. Doze membros votaram a favor do texto preliminar nesta quarta-feira, enquanto Rússia e Reino Unido se abstiveram.
Washington tradicionalmente protege seu aliado Israel de qualquer ação no Conselho de Segurança.
"Estamos em campo fazendo o trabalho árduo da diplomacia", disse a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, ao conselho após a votação. "Acreditamos que precisamos deixar que essa diplomacia se desenvolva."
"Sim, as resoluções são importantes. E sim, este conselho deve se manifestar. Mas as ações que tomamos devem ser informadas pelos fatos e apoiar os esforços diretos de diplomacia. Isso pode salvar vidas. O conselho precisa fazer isso direito", disse ela.
Ela ainda afirmou que os EUA estavam decepcionados com o fato de a resolução não mencionar os direitos de autodefesa de Israel e culpou o Hamas pela crise humanitária em Gaza.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu nesta quarta-feira um cessar-fogo humanitário imediato para permitir a libertação de reféns e acesso de ajuda humanitária em Gaza.
A Rússia apresentou duas emendas ao texto da resolução, propondo um cessar-fogo humanitário em uma delas, mas ambas também receberam o veto dos EUA.
"Acabamos de testemunhar mais uma vez a hipocrisia e os padrões duplos de nossos colegas norte-americanos", disse o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia.
A resolução também pedia que Israel -- sem citar o país nominalmente -- revisse sua ordem para que civis e funcionários da ONU em Gaza se mudassem para o sul do enclave palestino e condenava "os ataques terroristas do Hamas".
Na semana passada, Israel ordenou que cerca de 1,1 milhão de pessoas em Gaza -- quase metade da população local -- se mudassem para o sul, enquanto se prepara para uma ofensiva terrestre em retaliação ao pior ataque do Hamas contra civis na história de 75 anos do país.
Israel tem imposto um cerco total a Gaza e submetido o território a um intenso bombardeio. O país prometeu aniquilar o Hamas depois que o grupo militante islâmico matou 1.400 pessoas e fez reféns em um ataque a Israel em 7 de outubro.
Autoridades palestinas dizem que mais de 3.000 palestinos foram mortos.
A resolução ainda condenava toda a violência e hostilidades contra civis e todos os atos de terrorismo e pedia a libertação imediata e incondicional de todos os reféns.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, lamentou o veto à resolução e defendeu que a preocupação do país sempre foi "humanitária", mas que cada membro do conselho votou com sua própria "inspiração".
"Infelizmente não foi possível se aprovar... mas acho que do nosso ponto de vista fizemos todo o esforço possível para que cessassem as hostilidades, parasse com os sacrifícios humanos e se pudesse dar algum tipo de assistência às populações locais e brasileiros que estão na Faixa de Gaza", disse.
(Por Michelle Nichols, reportagem adicional de Fernando Cardoso, em São Paulo)