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Por Will Dunham
WASHINGTON (Reuters) - Uma nova análise de dados coletados pela espaçonave Cassini, da Nasa, revelou mais evidências de que a lua de Saturno "Encélado" pode ser capaz de sustentar a vida, com moléculas orgânicas complexas adicionais identificadas a partir de jatos de grãos de gelo semelhantes a gêiseres, expelidos no espaço a partir do oceano subterrâneo desse pequeno mundo gelado.
Pesquisadores reexaminaram detalhadamente os dados obtidos quando a Cassini realizou seu sobrevoo mais próximo de Encélado, em 2008, inclusive quando voou diretamente através de plumas de grãos de gelo e gases que irrompiam -- por meio de fraturas próximas ao polo sul -- da superfície da lua incrustada de gelo. Ao fazer isso, conseguiram obter uma visão mais clara da química do subsolo da lua.
Além de confirmar a presença de determinadas moléculas orgânicas, incluindo precursores de aminoácidos -- blocos de construção das proteínas, moléculas grandes e complexas essenciais para a vida -- já detectados anteriormente nas plumas, foram encontradas novas classes de moléculas orgânicas que não haviam sido detectadas antes.
"Encontramos várias categorias de moléculas orgânicas -- ou seja, que contêm principalmente carbono -- que abrangem uma gama de estruturas e propriedades químicas", disse Nozair Khawaja, cientista planetário da Universidade Livre de Berlim e principal autor do estudo publicado nesta semana na revista Nature Astronomy.
Esses tipos de molécula, nas circunstâncias certas, podem estar envolvidos nos processos que levam à formação de compostos orgânicos mais complexos que são componentes essenciais para a vida.
"Acredita-se que esses compostos sejam intermediários na síntese de moléculas mais complexas, que podem ser potencialmente relevantes do ponto de vista biológico. É importante observar, no entanto, que essas moléculas também podem ser formadas abioticamente, sem qualquer interação com a vida na Terra", disse Khawaja.
A lua Encélado é considerada um dos lugares mais intrigantes em nosso sistema solar quando o assunto é a busca de vida fora da Terra. Batizada com o nome de um gigante da mitologia grega antiga, é uma das luas mais internas de Saturno, o segundo maior planeta do nosso sistema solar. Tem um diâmetro de 504km e orbita o planeta gigante e gasoso a uma distância de aproximadamente 238.000km.
Cientistas acreditam que Encélado possui os ingredientes químicos necessários para a vida e tem aberturas hidrotermais que liberam água quente e rica em minerais em seu oceano, mesmo tipo de ambiente que pode ter gerado os primeiros organismos vivos da Terra. Seu oceano reside sob uma crosta de gelo com cerca de 20 a 30km de espessura.
"Em primeiro lugar, não encontramos vida em Encélado e não encontramos nenhuma bioassinatura", afirmou Khawaja.
"Mesmo que essas coisas existissem lá, duvido que as encontrássemos nos dados dos instrumentos da Cassini, que são uma tecnologia com décadas de idade. Entretanto, temos evidências convincentes de que todas as três pedras fundamentais da habitabilidade -- água líquida, uma fonte de energia e elementos essenciais e orgânicos -- existem em Encélado", disse Khawaja.
Pesquisadores realizaram uma análise química abrangente dos grãos de gelo coletados diretamente da nuvem durante o sobrevoo da Cassini a uma velocidade de cerca de 64.800km/h.
Os grãos foram ejetados apenas alguns minutos antes da coleta, de modo que não foram alterados pela intensa radiação espacial. As propriedades químicas dos grãos refletem, portanto, reações químicas complexas que ocorrem no oceano.
A Agência Espacial Europeia planeja uma missão para retornar a Encélado.
"Encélado é, e deve ser classificado, como o alvo principal para explorar a habitabilidade e pesquisar se há vida ou não", disse Khawaja.
(Reportagem de Will Dunham)