Por Catarina Demony e Pedro Nunes
LISBOA (Reuters) - À meia-noite, a enfermeira Inês Lopes e seus colegas estão prestes a começar o plantão noturno para cuidar de pacientes em uma unidade de tratamento intensivo de Covid-19 no centro de Lisboa. Eles amam a profissão, mas ela mal paga as contas.
Políticos, celebridades e pessoas de todo Portugal têm elogiado muito os profissionais da saúde da linha de frente durante a pandemia de coronavírus, às vezes saindo de casa para aplaudir e saudar os trabalhadores.
No entanto, profissionais de enfermagem mal conseguem se manter por causa dos salários baixos e da falta de oportunidades de progredir na carreira, disse Lopes.
"Eles (políticos) dizem que somos os melhores do mundo, mas depois não há aumento de salário", disse a enfermeira de 30 anos à Reuters no pequeno apartamento de dois quartos que divide com a irmã e um gato em uma área residencial nos arredores de Lisboa.
"Aplaudir e nos agradecer não resolverá nada", disse, acrescentando que muitos colegas têm dois empregos para sustentar a família.
Há quase 45.500 enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde (SNS), divididos em três categorias profissionais. Quase metade, incluindo Lopes, recebe 1.205 euros brutos por mês. Feitos os descontos, alguns recebem 980 euros, só 315 euros acima do salário mínimo, de acordo com a Ordem dos Enfermeiros.
O governo socialista "descongelou" a progressão de carreira no setor público em 2018, mas um enfermeiro pode levar uma década para obter pontos suficientes para um aumento de salário no sistema atual.