WASHINGTON (Reuters) - John Brennan, ex-diretor da CIA, disse que não será silenciado por Donald Trump nesta quinta-feira, um dia depois de o presidente dos Estados Unidos revogar uma autorização de segurança que lhe havia sido concedida durante a era Obama, e que a medida está ligada diretamente à investigação em andamento sobre a Rússia.
Na quarta-feira o presidente republicano disse em um comunicado que cancelou a autorização de Brennan por este ter feito o que rotulou como "alegações infundadas e ultrajantes" sobre seu governo e que está avaliando se priva outras ex-autoridades de suas licenças. Brennan e estas outras fizeram críticas a Trump.
Mais tarde Trump disse ao Wall Street Journal que sua decisão teve relação com o inquérito federal em curso sobre uma suposta interferência russa na eleição de 2016 e um hipotético conluio com sua campanha presidencial.
"Eu o chamo de caça às bruxas manipulada, é uma armação", disse Trump em uma entrevista ao jornal na quarta-feira. "E estas pessoas a lideraram."
"É algo que tinha de ser feito", acrescentou.
O presidente negou qualquer conluio. A Rússia disse não ter interferido, ao contrário do que mostraram as conclusões da comunidade de inteligência dos EUA.
Brennan, que comandou a Agência Central de Inteligência no governo do presidente democrata Barack Obama, classificou as refutações de Trump como "conversa fiada" nesta quinta-feira, e prometeu não se calar.
"As únicas dúvidas que permanecem são se o conluio ocorrido constituiu uma conspiração passível de processo criminal, se ocorreu uma obstrução da Justiça para encobrir qualquer conluio ou conspiração e quantos membros da 'Trump Incorporated' tentaram fraudar o governo lavando e ocultando a movimentação de dinheiro em seus bolsos", escreveu Brennan em um artigo de opinião publicado no jornal New York Times.
James Clapper, ex-diretor de Inteligência Nacional e também crítico cuja autorização Trump disse que pode cogitar anular, alertou que Brennan está expressando "uma opinião bem-informada". Ainda cabe ao procurador-geral, Robert Mueller, que lidera o inquérito, chegar a uma conclusão definitiva, opinou Clapper.
"É preciso haver uma determinação oficial a respeito disso, e isso, acho, só pode ser feito pela investigação de Mueller", afirmou Clapper à rede CNN nesta quinta-feira.
Mueller indiciou ou obteve confissões de culpa de 32 pessoas e três empresas, inclusive autoridades de inteligência russas e ex-aliados de Trump.
(Por Susan Heavey e Makini Brice; reportagem adicional de Steve Holland, Jeff Mason, Jonathan Landay e Patricia Zengerle)