Por Anthony Deutsch
HAIA (Reuters) - Exames de laboratório ligaram o estoque de armas químicas do governo da Síria pela primeira vez ao maior ataque com gás sarin visto na guerra civil do país, disseram diplomatas e cientistas à Reuters, confirmando alegações ocidentais segundo as quais forças do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, estiveram por trás da atrocidade.
Laboratórios que trabalham para a Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) compararam amostras recolhidas por uma missão da Organização das Nações Unidas (ONU) em Ghouta, subúrbio de Damasco, após o ataque de 21 de agosto de 2013, quando centenas de civis morreram envenenados por gás sarin, com substâncias químicas entregues pela Síria para destruição em 2014.
Os exames encontraram "marcadores" em amostras coletadas em Ghouta e nos locais de dois outros ataques com agentes nervosos, nas cidades de Khan Sheikhoun, em Idlib, em 4 de abril de 2017, e em Khan al-Assal, Aleppo, em março de 2013, disseram duas pessoas envolvidas no processo.
"Comparamos Khan Sheikhoun, Khan al-Assal e Ghouta", relatou uma fonte, que pediu para não ser identificada devido à delicadeza das descobertas. "Havia assinaturas em todas as três que combinavam."
Os mesmos resultados foram a base de um relatório do Mecanismo Investigativo Conjunto da Opaq e da ONU emitido em outubro, segundo o qual o governo sírio foi responsável pelo ataque em Khan Sheikhoun, que matou dezenas de pessoas.
As descobertas de Ghouta, cujos detalhes foram confirmados à Reuters por duas fontes diplomáticas diferentes, não foram divulgadas no relatório de outubro apresentado ao Conselho de Segurança da ONU por não dizerem respeito ao mandato da equipe.
Mesmo assim elas reforçarão as afirmações de Estados Unidos, Reino Unido e outras potências ocidentais para as quais o governo Assad ainda possui e usa munições proibidas, violando várias resoluções do Conselho de Segurança e a Convenção de Armas Químicas.
A Opaq não quis comentar. A Síria vem negando reiteradamente o emprego de armas químicas no conflito atualmente em seu sétimo ano, e atribuiu os ataques químicos em Ghouta, território dominado pelos rebeldes, aos próprios insurgentes.
A Rússia também negou que forças do governo sírio tenham realizado ataques químicos e questionou a confiabilidade das investigações da Opaq. Autoridades de Moscou disseram que os rebeldes realizaram ataques para desacreditar o governo Assad e induzir uma condenação internacional.