Por Lucila Sigal
BUENOS AIRES (Reuters) - O filme argentino "Acusada" aborda a fascinação de espectadores por casos policiais através de um relato íntimo, que mostra o impacto da exposição midiática para os envolvidos e como a luta para impor um discurso parece importar mais que descobrir a verdade.
O diretor Gonzalo Tobal, de 36 anos, descreve o filme, que compete na seção oficial do Festival Internacional de Cinema de Veneza, como um "policial contado a partir da intimidade dos vínculos familiares".
"Estamos envoltos em uma loucura discursiva, de relatos midiatizados e redes sociais, na qual às vezes tudo parece perder o sentido", disse Tobal em entrevista à Reuters antes de viajar a Veneza, onde será realizada a estreia de seu segundo longa-metragem no dia 4 de setembro.
"Então, a pergunta é que lugar sobra para a verdade ou para o ideal da verdade. Creio que é uma pergunta que atravessa o filme", acrescentou o diretor, dizendo que seu interesse especial por temas familiares lhe permitiu mostrar o outro lado de um caso policial midiatizado.
"Acusada", protagonizado pela cantora e atriz Lali Espósito ao lado de Leo Sbaraglia, Inés Estévez e com a participação especial do mexicano Gael García Bernal, conta a historia de Dolores, uma jovem que levava uma vida normal de estudante até sua melhor amiga aparecer brutalmente assassinada.
Dois anos depois, ela é a única acusada pelo crime em um caso de grande exposição midiática, no qual todos têm uma opinião sobre sua inocência ou culpa.
Dolores se prepara para o julgamento em sua casa, enquanto sua família funciona como uma equipe que, para defendê-la, exerce um controle obsessivo sobre tudo que a rodeia: contrata o melhor advogado, decide como ela se apresenta, com quem anda, o que diz. Mas, à medida que o processo avança surgem suspeitas e segredos no seio familiar.
"Quando o caso vai para a mídia, é como se houvesse uma batalha judicial e outra batalha que é midiática. Não sei qual é a mais importante. Existe uma espécie de paradoxo no modo como o entorno de Dolores a defende que é muito consciente disso, e creio que luta as duas batalhas ao mesmo tempo", disse Tobal.
"Fica essa ideia de que o que prevalece é um discurso, um relato, uma construção de algo que, em sua defesa, uma pessoa poderia dizer que se torna verdade ou se confunde com a suposta verdade. E logo já não se sabe mais o que é verdade e o que é mentira. O que importa é ganhar".
(Reportagem de Lucila Sigal)