BAGDÁ (Reuters) - Forças iraquianas e combatentes curdos Peshmerga iniciaram neste domingo uma segunda rodada de negociações para resolver um conflito sobre o controle dos cruzamentos de fronteiras na região do Curdistão, disse a televisão iraquiana.
O primeiro ministro iraquiano Haider al-Abadi ordenou na sexta-feira uma suspensão de 24 horas sobre as operações militares contra as forças curdas ao norte do Iraque. Ambos os lados realizaram uma primeira rodada de negociações na sexta-feira e no sábado.
Abadi afirmou que as negociações têm o intuito de preparar a implementação pacífica de tropas iraquianas nos cruzamentos de fronteira com Turquia, Irã e Síria na região do Curdistão do Iraque.
Conflitos ocorreram entre ambos os lados após forças iraquianas capturarem a cidade rica em petróleo de Kirkuk dos Peshmerga, em uma ofensiva surpresa ordenada por Abadi após os curdos realizarem um referendo de independência ao norte do Iraque em 25 de setembro.
Kirkuk é parte das chamadas áreas disputadas, reivindicadas tanto pelo governo central iraquiano quanto pelo Governo Regional do Curdistão (KRG, na sigla em inglês) ao norte do Iraque.
"A segunda rodada de negociações sobre a implementação de tropas federais nas áreas disputadas começou", disse a TV estatal, sem dar mais detalhes.
Abadi quer tomar o controle das áreas disputadas e nos cruzamentos de fronteiras, incluindo a área de Fish-Khabur, pela qual um oleoduto de exportação de petróleo cruza para a Turquia, levando petróleo iraquiano e curdo.
O KRG propôs na quarta-feira um cessar-fogo imediato, uma suspensão do resultado do referendo e o início de "um diálogo aberto com o governo federal baseado na Constituição iraquiana" - pedido rejeitado por Bagdá.
Forças governamentais do Iraque apoiadas pelos EUA, paramilitares apoiados pelo Irã e combatentes curdos lutaram lado a lado para derrotar o Estado Islâmico, também chamado de Isis, mas a aliança se enfraqueceu com os militantes amplamente derrotados no país.
A cidade multiétnica de Kirkuk, que fica do lado de fora dos limites oficiais do KRG, caiu sob as forças iraquianas sem muita resistência em 16 de outubro. Os Peshmerga, no entanto, começaram a lutar de volta à medida que se retiravam rumo ao núcleo da região curda.
A queda de Kirkuk, considerada por muitos curdos o coração de sua pátria, foi um grande golpe simbólico e financeiro à ambição curda de independência defendida pelo presidente do KRG, Masoud Barzani, uma vez que reduziu as receitas com exportação de petróleo da região pela metade.
As disputas mais violentas aconteceram a noroeste, enquanto os Peshmerga combatiam as ofensivas em direção à Fish-Khabur e ao sul de sua capital, Erbil.
Falando em Genebra na quinta-feira, o Secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou estar "decepcionado que as partes foram incapazes de alcançar uma resolução inteiramente pacífica" e disse que encorajou Abadi a aceitar as "aberturas por negociações com base na Constituição iraquiana" da KRG.
Abadi demandou na quinta-feira que os curdos declarem o referendo nulo, rejeitando a oferta do KRG de suspender seu impulso de independência e resolver a crise através de negociações. "Não iremos aceitar nada que não seu cancelamento e o respeito à Constituição", disse ele em comunicado durante visita à Teerã.
(Reportagem de Maher Chmaytelli)